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Bissexualidade

O termo bissexual terá sido utilizado pela primeira vez pelo anatomista Robert Bentley Todd em 1859, ano em que Charles Darwin publica “A Origem das Espécies”. As descrições de Todd sobre a anatomia e fisiologia dos órgãos reprodutivos humanos e da sua classificação, juntamente com o interesse pela teoria da evolução, ajudaram a que o termo bissexual ficasse impresso nos discursos científicos. No século XIX existiu também uma recuperação da tradição mitológica do homo androginus, na qual o humano primordial teria uma natureza bissexual (MacDowall, 2009; Rado, 1940).

Estas tendências irão influenciar alguns teóricos da Sexologia (e.g., Krafft-Ebing, Havelock Ellis e Magnus Hirschfeld) que, nas suas obras, fazem referência ao conceito de bissexualidade. A ideia mais prevalente na época sobre este conceito era de que a bissexualidade era algo em que coexistiam características masculinas e femininas.

Esta ideia está também muito presente em Freud (1933 cit. por MacDowall ,2009) que não só introduz a ideia de uma bissexualidade constitucional, mas também a define como característica da sexualidade infantil (polimorfa e perversa). A sexualidade humana adulta resultaria então na resolução dessa imaturidade psíquica, ou seja, numa escolha de um objecto erótico do sexo oposto (Freud,1905/2001).

Os estudos pioneiros de Kinsey sobre o comportamento sexual (1948; 1953, cit. por Frazão e Rosário, 2008) romperam de forma veemente com a ideia de uma normatividade na sexualidade humana, mas também com a dicotomia homossexualidade/heterossexualidade, isto é, apresentando a ideia de que existem um conjunto de matizes intermédias ou indefinidas que enriquecem a expressão genuína da sexualidade de cada ser humano.

Apesar disso, a prevalência dos discursos que enfatizavam a dicotomia entre heterossexualidade e homossexualidade irá remeter a bissexualidade para uma ideia de fluidez ou de experimentação, o que resultou num apagar deste conceito enquanto entidade autónoma (Gammon & Isgro, 2006).

Ao longo dos anos surgiram várias tipologias de bissexualidade. Por exemplo, bissexualidade transicional, histórica, sequencial, concorrente (Klein, 1993 cit. por Gammon & Isgro, 2006) ou bissexualidade defensiva, num casamento, igualitária, experimental, secundária ou técnica (Fox, 1995; 1996 cit. por Gammon, & Isgro, 2006). Todas estas tipologias mostram o esforço para rotular e categorizar os comportamentos e as identidades bissexuais, comportamentos e identidades que pela sua fluidez teimavam em fugir a essa categorização (Gammon & Isgro, 2006)

A contemporaneidade trouxe uma reafirmação da bissexualidade como uma orientação sexual e uma identidade. Tal como se pode ver nas posições da American Psychological Association sobre este tema, “o termo “bissexual” é usado para descrever uma pessoa que experiencia uma atracção emocional, romântica e/ou sexual por mais de um sexo ou género, ou que se envolve romântica e sexualmente com essas pessoas” (A.P.A., 2017).

No documento onde surge esta definição, a A.P.A. menciona um estudo de 2016 realizado pelo Centers for Disease Control and Prevention em que 1.3% de mulheres e 1.9% de homens se definem como “homossexuais, gays ou lésbicas”, e 5,5% de mulheres e 2% de homens se definem como bissexuais. Segundo este estudo, estes resultados indicam que as pessoas bissexuais podem representar o maior grupo de pessoas dentro da comunidade LGB (A.P.A, 2017).

Apesar disso, e este é um dado a que os técnicos de saúde e a que a população em geral devem estar particularmente atentos, muitas pessoas acreditam que a bissexualidade realmente não existe, o que faz com se crie uma noção de invisibilidade e até de bifobia na comunidade em geral e também dentro da comunidade LGBT. Estes factos estão indiscutivelmente associados a dados que sugerem que as pessoas bissexuais apresentam indicadores que são bastante importantes do ponto de vista da sua saúde mental, nomeadamente uma menor partilha da sua orientação sexual junto da família e amigos, e uma maior probabilidade de exposição a situações de pobreza, desemprego, violência e de doença do que as pessoas gays e lésbicas (A.P.A, 2017).

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