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Quando os adultos também precisam um “não”

Muito se fala da importância de dizer “não” na educação infantil, pois é certo e exaustivamente referido que no desenvolvimento psicológico, viver a frustração, o “não”, é uma componente extremamente importante.

Mas e os adultos?

Será que estes não se podem frustrar? Será que para o bem-estar psicológico de um adulto o “não” também não é igualmente importante?

A questão de saber lidar com a frustração, principalmente a frustração que aparece naturalmente quando nos relacionamos com outros, é fundamental, porque a vida adulta está repleta de contrariedades, de frustrações…é preciso trabalhar aos sábados, o nosso companheiro não quer ir jantar fora, o colega do lado atrasa o nosso trabalho, há contas imprevistas que caem em momentos inconvenientes, surgem imprevistos mil que terão que ter uma resposta ao mesmo tempo que as obrigações rotineiras também exigem uma reposta…tudo isto e mais são entraves ao que queremos, ao que desejamos fazer. Entraves ao desejo são frustrações. E as frustrações existem porque o nosso mundo é um mundo relacional, onde vivemos em convivência e conflito com os nossos e os desejos de outros.

É neste sentido que começo a observar uma questão pertinente, principalmente nos jovens adultos. Cresceram sem saber equilibrar o prazer e a frustração. Frequentemente cresceram com um única estratégia de resposta à frustração: fuga.

Hoje são jovens adultos que igualmente fogem facilmente do que os frustra. O chefe é exigente? Muda-se de trabalho. O curso é difícil? Muda-se de curso. O companheiro não é o epítome da perfeição? Muda-se de parceiro. Repete-se um padrão vincado que é cada vez mais notório.

O problema é relativamente óbvio. Se estes jovens adultos não conseguem suportar a frustração, se abandonam relações, objectivos e projetos, como sabem reconhecer o prazer e a gratificação? Não sabem. Não conseguem. O desafio, a dificuldade, não é ultrapassado, nem tão pouco se lida com este para chegar a um ponto de felicidade e realização pessoal. Então estes jovens adultos estão, num limbo. Entre nem o prazer nem a frustração, estão no vazio. Perdidos dos seus objectivos, dos sonhos ou de projectos de vida e de futuro, vão andando, vão vivendo sem viver.

A importância do “não” é uma questão mais fundamental no desenvolvimento psicológico do que apenas uma questão educacional a curto prazo. Tem repercussões na vida adulta.

E muitas pessoas com quem nos cruzamos no nosso dia-a-dia precisam urgentemente de ouvir, e aguentar, um precioso “não”. Para o bem delas e para o bem das pessoas com quem se relacionam.

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