No vasto oceano das emoções humanas, o amor e a paixão emergem como ilhas distintas, cada uma com a sua própria topografia emocional. Enquanto que o amor poderá representar-se por um farol sólido, que nos guia através das marés da vida, a paixão poderá ser equiparada a uma chama intensa que pode iluminar o caminho, mas, ao mesmo tempo, destruir tudo ao seu redor.
Quando estamos apaixonados, somos lançados num (quase) turbilhão emocional. As borboletas na barriga e a euforia inicial podem ser intoxicantes e, muitas vezes, cegam-nos para a realidade. O desequilíbrio emocional é uma constante e, como tal, as decisões que tomamos são frequentemente baseadas na impulsividade, ao invés de na razão e ponderação.
A paixão, embora intensa e estimulante, é efémera por natureza, tal como uma chama que arde ferozmente, a ponto de consumir a sua própria fonte de combustível. O que resta depois das chamas é, não raras vezes, uma sensação de vazio, desilusão, e até mesmo algum ressentimento. Assim, além das emoções avassaladoras que a paixão pode desencadear, existe um perigo subtil por trás de tamanha intensidade: o vício.
Como uma droga poderosa, a paixão pode chegar a ponto de consumir os indivíduos, levando-os a procurar constantemente novas doses de emoções intensas. Com frequência, o vício no sentimento de paixão tende a gerar ciclos de relacionamentos fugazes e contínua insatisfação, levando as pessoas a “saltar” de relação em relação, numa tentativa quase desesperada de recriar a sensação arrebatadora que experimentam no início de um romance. Não obstante, cada novo relacionamento traz consigo o mesmo ciclo de intensidade, seguida de desilusão, perpetuando uma busca incansável e, ao mesmo tempo, insustentável.
O vício na paixão pode ter consequências devastadoras para a saúde mental dos envolvidos que podem, não apenas tornar-se dependentes da adrenalina e da excitação associadas ao início de um relacionamento, como sentir-se incapazes de encontrar satisfação em relações estáveis e duradouras. Além disso, o constante ciclo de altos e baixos poderá levantar questões de autoestima, ansiedade e até depressão.
Torna-se, assim, muito importante reconhecer os sinais deste vício e procurar ajuda. Terapia individual ou de casal poderão constituir ferramentas valiosas para compreender e superar padrões de comportamento disfuncionais. Aprender a cultivar relacionamentos saudáveis, com base no amor maduro, no respeito, e no compromisso mútuo é essencial para quebrar o ciclo do vício na paixão.
De salientar que a paixão não é uma substituta do amor. Enquanto que a primeira incendeia corações, é o segundo quem os aquece ao longo do tempo. Aceitar o desequilíbrio emocional da paixão como parte integrante da experiência humana é crucial; contudo, também o é procurar um equilíbrio emocional, mais estável e duradouro, que apenas poderá ser oferecido pelo amor maduro.