Quando nascemos, o choro começa por ser a nossa primeira ferramenta de comunicação ativa: choramos com o primeiro ar que inspiramos, e seguidamente, choramos por fome, frio, dores, sono, mimo, e por muitas mais coisas, muitas mais do que as que conseguimos enumerar. Mas à medida que vamos crescendo, vamos substituindo o choro por meios alternativos de expressão, como as expressões faciais, vocalizações, e posteriormente, a fala, e vamo-lo resguardando para as horas de expressão emocional mais específica: muitas vezes, em episódios de tristeza, raiva ou até mesmo alegria.
E este desenvolvimento na nossa forma de expressão, ainda que essencial, não significa que deixemos de ter o choro como um meio eficaz de regulação emocional. No entanto, certamente, já deu por si a travar o choro ou a evitá-lo porque “não quer que fiquem a olhar para si”: talvez porque se sente desconfortável com o julgamento de terceiros, ou porque acredita que chorar é mostrar fraqueza, ou até mesmo porque em criança o choro lhe foi travado várias vezes (o famoso “não chores, não és bebé”, ou “vê lá se queres que te dê motivos para chorares a sério”). Até a um nível cultural, vamos crescendo com as ideias arcaicas e limitantes de que “os homens não choram”, chorar é para fracos”, “para maricas” ou “para bebés chorões”. E por todos estes motivos e mais alguns, vamos calando essa resposta, na crença de que estamos a ser adultos funcionais por barrarmos uma ação fisiológica que é tão normativa como ter sede.
Possivelmente, até já sofreu com alguns efeitos secundários desse evitamento, tais como dor de cabeça, a sensação de “nó” na garganta, o pensamento turvo, e por aí fora.
Mas sabia que chorar pode assumir várias funções na nossa vida e equilíbrio orgânico?
Não é à toa que, ainda que menos frequente, continue a ser uma forma de comunicação e sobretudo, uma forma de regularmos o nosso sistema.
Chorar é uma resposta fisiológica que transmite uma mensagem a quem observa e por esse motivo, não raras vezes, dá lugar à aproximação de outros – quando choramos, sobretudo por motivos relacionados com a expressão da tristeza, damos lugar ao outro de se aproximar e tentar perceber de que forma nos pode prestar auxílio, promovendo uma aproximação do nosso círculo social (e não, não é uma manipulação! – A menos que o use como tal.). Chorar ajuda a expressarmo-nos emocionalmente, o que, por si só, é muitas vezes um exercício de introspeção e autorreflexão. Age, também, como um “antídoto” para a impulsividade, uma vez que nos permite regular as emoções antes de partirmos para o comportamento (muitas vezes inconsequente). Para além destes fatores, chorar também ajuda a regular a libertação de cortisol no nosso corpo, promovendo o relaxamento e a tranquilidade – alguma vez se sentiu mais leve após uma boa sessão de choro? Muito provavelmente sim, por este mesmo motivo.
Antes de deixar que o seu pensamento trave a sua resposta emocional de choro quando efetivamente precisa dela, permita-se ter espaço para se expressar livremente e acolha as suas necessidades. Só passamos pelas emoções através do significado que lhes damos e através da vivência das sensações que elas nos transmitem – e criar barreiras à sua expressão emocional é colocar ativamente um obstáculo ao seu bem-estar e crescimento enquanto ser humano.
Deixe-se ser o lugar onde mora o choro, mas saiba que esse lugar não será eterno. Veja-o como um porto seguro. Estará lá somente quando for necessário, nem mais, nem menos do que isso.