Há um fenómeno curioso que enquanto formador tenho visto a acontecer vezes sem conta.
A comunicação é uma componente da relação.
A Relação é afectada pela Comunicação e vice-versa. Ou seja, comunicamos de maneiras diferentes conforme a natureza da relação em causa. De igual modo, a nossa relação tem maior ou menor afectividade e significância emocional também pela maneira com que comunicamos.
Um exemplo muito simples: frequentemente pessoas em consulta dizem uma variante desta frase “Não sei porque falo assim (agressivamente) com o meu marido/a minha mãe/o meu filho quando no trabalho sou uma pessoa tão calma e compreensiva”. Isto tem uma explicação muito simples. Pela natureza da relação, estas pessoas mais próximas, são também as pessoas que nos perdoam, que nos compreendem, as quais em que nos podemos dar ao luxo (salvo-seja) de sermos menos tolerantes. Com os colegas de trabalho ou relações menos emocionalmente investidas a relação não tem amor incondicional, ou seja, a comunicação tem que ser mais cautelosa, mas normativa à funcionalidade.
Nesta formação em concreto, tendencialmente de inicio a participação é envergonhada. Poucos trazem exemplos apesar de existirem muitos. Com o desenrolar da formação começam a falar de uma ordem mais agressiva recebida por um superior, da dificuldade de gerir pedidos, etc…mas, surge sempre, apesar da formação ser em contexto laboral e empresarial, as relações pessoais.
Os filhos que fazem birra para comer os vegetais, os maridos com exigências criadas por inseguranças pessoais, os familiares incompreensíveis e egoístas, os bons samaritanos que oferecem ajuda a quem não pediu, etc.
O que começa por ser uma formação sobre a comunicação no trabalho transforma-se frequentemente numa sessão de partilha e aprendizagem. Isto porque a comunicação é uma face da relação, e relações temos nós todos em todas as áreas da nossa vida. Aquilo que falamos em formação sobre comunicação é na verdade generalizável a todos os contextos da nossa vida.
Assim deixo algumas dicas sobre uma comunicação mais eficaz para melhorar (todas) as relações na nossa vida.
Antes de mais um alerta: Não somos perfeitos.
A comunicação 100% ideal não existe a 100% do tempo. Mas termos uma noção do que será, e de quais os processos, para chegar a este 100% é muito mais eficaz do que não tentar de todo.
Idealmente, deveremos tentar comunicar o mais assertivamente possível. Mas o que é esta comunicação assertiva?
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As pessoas assertivas defendem os seus direitos e interesses de forma aberta e honesta, sem prejudicar os outros, recorrendo à negociação. O assertivo respeita as perspetivas diferentes que os outros possam ter.
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Podemos identificar este estilo através de sinais como o estar à vontade falando face a face, colocar as questões de forma clara, procurar compromissos exequíveis, negociar para benefício mútuo, não deixar que o submetam, entre outros.
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Ao contrário da comunicação agressiva, que vocaliza o “TU”, ou da passiva que vocaliza “NÓS”, a comunicação assertiva é a comunicação do “EU”. Da responsabilidade e segurança.
Mas sejamos sinceros…comunicar assertivamente é um esforço. É um exercício consciente de empatia, responsabilidade, afecto e compreensão. Então para quê comunicar assertivamente? Porque não ser agressivo e atropelar todos com a nossa vontade? Ou passivo e deixar que outros ditem as nossas vidas? Ou manipulador e evitar o confronto?
Porque as comunicações não-assertivas podem ser, e frequentemente são, vantajosas a curto prazo. A longo prazo, a relação é lentamente contaminada e destruída chegando a um ponto em que mais nenhuma comunicação é possível para além dos modos de comunicação desajustados.
Portanto, ser assertivo implica:
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Ser respeitado e tratado de igual para igual
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Manter os seus próprios valores, respeitando os dos outros
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Expressar os seus sentimentos e opiniões
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Dizer não sem se sentir culpado
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Mudar de opinião
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Cometer erros
Comunicar assertivamente é um processo, um treino, no qual por vezes vamos conseguir realizar alguns “exercícios”, mas outros não.
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Ser claro, conciso e específico
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Falar de forma directa. Usar exemplos explicativos
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Não pressupor que a outra pessoa já sabe, os outros não lêem pensamentos
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Usar a 1ª pessoa – Dizer eu significa que você assume a responsabilidade pelos seus pensamentos, sentimentos e acções e que não culpa os outros
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Flexibilidade
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Aceite críticas e manifeste intenção de mudança
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Expressar empatia
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Colocar-se no lugar do outro e entender o problema como seu
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Respeitar os outros – os outros têm opiniões e sentimentos diferentes dos nossos
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Fazer críticas construtiva
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Pedir ao invés de se queixar manifestando desagrado
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Se não lhe agrada algum comportamento alheio, peça e não se queixe a respeito desse comportamento
MAS
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A assertividade não garante a não ocorrência de conflitos.
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Um desacordo comunicado de forma assertiva por ambas as partes leva a um provável reconhecimento dessa discordância e uma tentativa de chegar a um acordo ou a uma decisão de manter suas posições respeitando a do outro.
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Nós somos responsáveis pelos nossos comportamentos.
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Se o outro se comportar de forma não assertiva, não precisamos fazer o mesmo.
Novamente, não formulas mágicas, mas se tivermos em mente a importância da comunicação, e como esta é uma ferramenta ao serviço das nossas relações pessoais, podemos treinar e pensar como comunicar melhor e por consequência, melhorar as nossas relações.