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A Interpretação dos Sonhos em Psicoterapia - Centro Catarina Lucas

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A Interpretação dos Sonhos em Psicoterapia

O sono humano é tipicamente dividido em duas categorias diferentes que ocorrem ao longo da noite: o sono REM e não-REM (Rapid Eye Movement). Durante o primeiro, os sonhos tendem a ser bizarros, mas vividos e repletos de simbolismo e emoção; durante o segundo, tendem a ser mais realistas e racionais. A pessoa comum experiencia cerca de 5 sonhos REM por noite, totalizando cerca de 150 mil sonhos ao longo de uma vida, dos quais a grande maioria não é recordado, e cuja significância é pouca. Eles têm várias funções, por exemplo: ajudam-nos a lidar melhor com o stress e facilitam a regulação emocional. (Fiss, 2000)

Mas terão os sonhos significado? E se sim, qual é? Pode ser interpretado e analisado em psicoterapia?

De acordo com vários autores, é possível retirar valor e significado da análise de sonhos na terapia: grandes personalidades da psicoterapia moderna relatam-nos na sua extensa bibliografia casos nos quais a análise de sonhos dos seus pacientes ou clientes – em casos clínicos publicados em livro – levou a avanços terapêuticos significativos (Yalom, 2015a, 2015b, 2023; Spinelli, 2016). Também outros estudos revelam a significância da utilização de sonhos no processo psicoterapêutico e de mudança (Fiss, 2000).

De acordo com as terapias Cognitivo-Comportamentais, os sonhos são simulações espontâneas daquilo que é a realidade e a vida diária, com pouco interesse terapêutico e sem um significado oculto a ser descodificado. Processos semelhantes ocorrem em momentos de vigília quando estamos acordados, mas desocupados fisicamente, por exemplo quando estamos numa fila à espera, e refletimos espontaneamente sobre as mais diversas ideias. Assim, os sonhos são muitas vezes descartados neste tipo de terapia. No entanto, alguns psicoterapeutas dentro deste modelo discordam, e consideram os sonhos como uma ‘biópsia’ dos processos psicológicos, representativos da forma de ser e estar no mundo do sujeito (Montangero, 2009).

O método fenomenológico (Zahavi, 2018) é um outro método de analisar os sonhos. De acordo com esta perspetiva, de forma a interpretar o sonho:

  • Deve-se focar no fenómeno, isto é, aquilo que se mostra no sonho. Assim, o conteúdo pode ser simbólico, porém, não faz distinção entre o latente e o manifesto. A interpretação do sonho deriva daquilo que o próprio sonho mostra ao sujeito. Para além disso, tudo aquilo que seja exterior ao sonho deve ser descartado.
  • Presunções a priori devem ser colocadas de lado (epoché). O seu significado está dentro dele próprio, e não em teorias psicológicas prévias.
  • De forma a descortinar aquilo que é verdadeiramente relevante do acessório, deve-se fazer variar (implicitamente) determinados aspetos do sonho. Seria indiferente que fosse x em vez de yvariação eidética (e.g.,: sonhar com uma pessoa específica, ou sonhar com uma outra pessoa qualquer, resultaria no mesmo sonho?).
  • O espaço, tempo e emoções sentidas durante o sonho são relevantes e informam-nos sobre o seu significado. Ao contrário da perspetiva psicodinâmica de Freud, não procura afirmar que um sonho no qual é experienciada ansiedade é a manifestação de um desejo.

A correta interpretação de um sonho, independentemente da perspetiva teórica que seja adotada, requer conhecimento e prática. Porém, existem algumas “dicas” que podem facilitar o processo:

  • Yalom recomenda que em consulta, o sonho seja contado na primeira pessoa do presente. Ao invés de (por exemplo) “estava na praia”, deve ser contado como “estou na praia”. Isto facilita a recordação do sonho com mais facilidade e precisão. Para além disso, atribui particular significado a sonhos que ocorrem imediatamente antes ou depois da 1ª consulta e que envolvem o terapeuta, já que remontam para o processo terapêutico e para a relação.
  • Spinelli recomenda na sua prática que o psicoterapeuta devolva o sonho ao paciente (na primeira pessoa) da mesma forma que este o reproduziu. Assim, assegura a melhor compreensão do sonho por um lado, e permite que o paciente adote a perspetiva de um terceiro ou espectador relativamente ao seu próprio sonho.

Escrito por João Padeiro

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