Imagina que era possível viveres uma vida igual à que viveste até hoje, uma e outra vez, eternamente. Aceitavas?
E se a ideia da repetição da vida que vivemos até agora não nos agradar ou até nos assustar? Se esta ideia magoa ou é insuportável, provavelmente não estamos a viver de forma plena.
É aqui que se coloca a questão: temos medo de morrer ou de não estarmos a viver, no verdadeiro sentido da palavra? Sabemos sequer como é que queremos viver? Sabemos quem somos, o que defendemos e qual é o nosso sentido na vida? Se tudo o que sentimos são os dias a passar, não será compreensível que nos assuste a ideia de fim? O fim, sem termos feito o que queríamos, sem termos amado o suficiente, sem termos experienciado sensações, sem nos termos ligado aos outros. Que fim é este, se eu achei que ia ter tempo para tudo depois? Depois, quando? Um dia? Estamos muitas vezes a adiar a vida e esperamos que isso não nos traga angústia e ansiedade, convencendo-nos que temos tudo sob controlo, temos tempo, pensamos nós. Focamo-nos no que é preciso fazer agora, deixamos o que nos faz felizes para depois. Uma e outra vez. Repetidamente. Dias, semanas, meses, anos. E a vida passa. Quando nos apercebemos disso, sentimos arrependimento, ressentimento, frustração. Temos pressa. Queremos viver e não sabemos como. Queremos viver e o mundo à nossa volta parece não deixar. Será que não deixa? Ou será que estamos presos nas nossas próprias amarras, auto-sabotagem e medos?
Seja como for, o preço a pagar por uma vida não vivida é alto: angústia, ansiedade, depressão, estagnação e falta de conexão com os outros.
Se o medo da morte nos abrir os olhos para tudo isto, ele é bem-vindo. Não é agradável, mas é útil. Está a falar connosco e a despertar-nos para a forma como vivemos: MUDA, AVANÇA, AMA, VIVE! E está tudo bem se não soubermos como fazer tudo isto e se nos sentirmos confusos e perdidos. O que não é aconselhável é ignorarmos estas mensagens eternamente, adiar a mudança, o pedido de ajuda e a vida ao carregar uma bagagem de arrependimentos e ciclos auto-destrutivos. Não temos de o conseguir sozinhos, mas a responsabilidade de tentar é só nossa.
Assim, perante esta angústia podemos fazer mais do que diminuir a ansiedade da morte. Podemos utilizar esta consciência como uma experiência que nos desperta e nos motiva a mudar a nossa maneira de viver. A forma como damos valor à vida, como sentimos compaixão pelos outros e como amamos com maior profundidade, depende também da consciência que temos de que estas experiências estão destinadas a desaparecer. É importante estarmos presentes, sermos gratos, conectarmo-nos aos outros, transmitindo-lhes partes de nós para que a nossa essência perdure no tempo. Dar sentido à vida ajuda-nos a lidar com o medo da morte.