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Quando as redes sociais nos fazem sentir insuficientes

Nos últimos dias, durante um momento de scroll numa rede social deparei-me com esta imagem e pensei “é mesmo isto”. A verdade é que a temática das redes sociais é abordada em consulta vezes e vezes sem conta. Pelo tempo que se gasta, pela superficialidade dos contactos e… pela comparação constante.

A comparação nas redes sociais é um fenómeno que tem implicações severas na autoestima e no autoconceito das pessoas que acompanho. A comparação propicia, geralmente, sentimentos de inferioridade no espectador e crenças extremistas e erróneas de que as outras pessoas têm uma vida extraordinária, sem problemas, com uma família perfeita, um grupo de amigos sempre disponível, que vão a todos os festivais de verão e passam férias nas Maldivas.

Há igualmente uma grande tendência para se mostrar que tudo está bem, que têm experiências maravilhosas e uma vida “perfeita”, quando, por dentro, têm muitas vezes pensamentos difíceis de gerir, estão a sentir-se sozinhas em todos os eventos, no meio de tanta gente e trocariam tudo isso por sentirem que pertencem a um grupo, que os outros se preocupam e que está tudo bem em mostrar-se tal e qual como são – o mostrar a sua vida nas redes sociais surge com um mecanismo de satisfação imediata pelos likes e comentários elogiosos que elevam a autoestima. Mas, no fim do dia, o vazio torna-se cada vez maior.

A comparação é sempre algo injusto. Injusto na medida em que comparamos a nossa vida apenas num aspeto em específico (o que é mostrado), sem ter em conta todas as outras variáveis e comparamos o nosso pior com o melhor das outras pessoas.

Agora vejamos, o que acontece quando refletimos com algum distanciamento sobre o conteúdo que vemos nas redes sociais? Ou, pelo contrário, quando tentamos ver além do óbvio, aproximando-nos verdadeiramente da pessoa por detrás do ecrã?

Vamos imaginar que alguém faz um post ou um story a partilhar algo que gostaríamos muito de fazer (uma viagem, uma experiência…), o pensamento que surge é de comparação, que incomoda e faz-nos sentir mal e inferiores.

Agora, vamos imaginar exatamente a mesma situação, mas, de antemão, acrescentamos a informação de que a pessoa está a festejar porque ultrapassou uma fase muito crítica e difícil na sua vida (uma doença, uma separação…). Será que o pensamento originado após a visualização da partilha seria o mesmo? O mais certo é que seria diferente, porque teríamos mais dados que geralmente desconhecemos.

A verdade é que nas redes sociais não temos acesso a tudo o que se passa na vida das pessoas. Os seus pensamentos, os seus sentimentos, os seus problemas, as suas dores. Todos temos a nossa história e é rara a partilha do desafio, do que é mais difícil, do que dói.

Que possamos alargar a nossa consciência para o que está por detrás do ecrã. Que possamos compreender que as partilhas nas redes sociais são só e apenas uma parte da história de quem partilha, geralmente a parte que não mete medo e não envergonha – sentimentos esses que são transversais a todo e qualquer ser humano.

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