Existe, indubitavelmente, uma relação causal entre a nossa educação e os padrões de pensamentos, comportamentos e emoções que desenvolvemos. Muitas vezes, em consulta, a consciência da forma como são educados, gera a muitos clientes emoções como revolta ou frustração, embebidas de traumas por que passaram, fobias que lhes foram implantadas, ou crenças limitadoras que lhes foram enraizadas.
De forma transversal, todos nós desenvolvemos, em algum grau, crenças centrais e narrativas sobre nós, sobre os outros e sobre o mundo, através de experiências precoces negativas na nossa infância e adolescência, que vão sendo reforçadas ao longo da vida. Estas crenças despoletam elevados níveis de ativação emocional, com enorme sofrimento, que se traduz em tendências de comportamentos reativos ou passivos disfuncionais.
Especificamente, a investigação psicológica diz-nos que temos cinco necessidades emocionais básicas: 1) Aceitação e Conexão; 2) Autonomia e Competência; 3) Limites realistas; 4) Espontaneidade e Prazer; e 5) Liberdade de expressão e Emoções válidas, que quando não são satisfeitas de forma saudável, geram determinados esquemas com crenças subjacentes. Por exemplo, se na nossa infância passámos por algum grau de ausência de carinho, afeto ou atenção por parte dos nossos cuidadores, é possível que desenvolvamos um esquema de Distanciamento e Rejeição, com crenças de que os outros não nos conseguem amar, ou que não temos o valor suficiente, com sentimentos de inferioridade.
Se os nossos cuidadores eram pessoas sempre em alerta, que não nos permitiam desafiar ou experimentar coisas por medo, que se mostravam ansiosos ou que duvidavam constantemente das nossas capacidades, podemos desenvolver um esquema de Autonomia e Desempenho Deteriorados, com crenças de ter de depender dos outros para conseguir concretizar objetivos, com medo de desenvolver doenças e problemas médicos, ou até a sensação de que somos um prolongamento deles, sem termos uma identidade própria.
Se, por outro lado, fomos educados sem ouvir “nãos”, sem experiências de frustração e com excessivo reforço das nossas capacidades, podemos desenvolver um esquema de Limites Deteriorados, com crenças de que somos mais e melhor do que os outros ou ter dificuldades para gerir as nossas emoções quando algo nos é negado ao longo da vida.
Quando, ao nosso redor, as pessoas mais próximas vivem (e nos ensinam a viver) priorizando a satisfação e a felicidade dos outros, podemos desenvolver um esquema disfuncional no Domínio dos Outros, com dificuldades em dizer “não” ou em fazer algo por nós próprios, ou termos grande necessidade de demonstrar constantemente o nosso valor e as nossas conquistas para obter reconhecimento.
Finalmente, se de alguma forma, ao longo da nossa vida, as pessoas significativas limitaram a expressão da nossa espontaneidade e criticaram as nossas escolhas, com verbalizações como “olha a tua figura; assim pareces ridículo; olha o que as pessoas vão pensar; não sabes fazer nada com jeito”, podemos desenvolver um esquema de Sobrevigilância e Inibição, aprendendo, por exemplo, que em vez de genuínos, temos de ser pessoas contidas, que não expressam as suas emoções ou opiniões, tendemos a ver sempre o pior lado da situação e culpamo-nos veemente pelas nossas falhas e erros.
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Não fizeram essas figuras o melhor que sabiam? Decerto que raras são as pessoas que nos passam essas crenças por mera maldade, para simplesmente nos criar sofrimento. Muitas vezes, também a elas lhes foram passadas essas crenças, e também elas viveram experiências que as fizeram acreditar nelas. Então, procure encontrar a compaixão e a compreensão de que fizeram aquilo que achavam que era o melhor para si;
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Em crianças somos esponjas que absorvem o mundo ao seu redor, e é normal que a forma como os outros pensam e vivem fique marcada em nós sem qualquer filtro. Mas a premissa fundamental é que já não somos crianças. Já chegámos a um ponto da nossa vida em que estamos no cume da montanha, e a direção que tomamos depende somente de nós. Queremos manter ou alterar estas crenças limitadoras?
A escolha de culpar o outro pelas nossas facetas mais sombrias é mais fácil, porque nos desresponsabiliza de um trabalho individual intenso pela frente. Mas quando escolhemos atribuir essa culpa, estamos a escolher igualmente não quebrar esses padrões e, mais do que isso, a escolher passá-los às próximas gerações, “Porque é assim. Porque sou assim. Porque fui criado assim”. Transformar o ressentimento em compaixão é, pois, o trajeto mais desafiante. Aceitar, sobretudo, que a realidade foi essa, mas que ela não é estanque nem inquebrável. Assumir as rédeas de quem somos, olhar para dentro, analisar o nosso comportamento, identificar os nossos padrões de pensamento, procurar novas formas de reagir e de sentir é, sem dúvida, trabalhoso. Mas é o único caminho para encontrar a leveza de quem somos. Não controlamos como fomos educados, mas controlamos em que nos transformamos a partir de agora, no presente, e para o futuro.
No momento em que já identificamos em nós o que queremos mudar, e fazemos, dia após dia, com esforço, o trabalho necessário para tal, e continuamos a conviver com as mesmas pessoas que nos tatuaram os padrões que queremos eliminar, nasce um novo desafio. O da frustração por estas continuarem a perpetuá-los nas suas vidas, o que se pode transformar num novo gatilho para nós. Nestes momentos, a única resposta deve ser: respirar fundo e aceitar. Estás a fazer o teu caminho, que depende de ti. A mudança do outro depende dele. Estás a transformar-TE pelo teu bem-estar, pela tua saúde, porque queres ser mais leve, apaixonar-te mais pela vida e por ti. O que o outro quer para ele está fora do teu alcance.
Então, perdoa e aceita quem te tornou a pessoa que és, e autorresponsabiliza-te por quem serás.
P.S. Não estás sozinho, o Psicólogo ajuda-te neste caminho!