O João (nome fictício) sofrera um acidente de viação e, desde então que, sempre que entrava num carro tinha reações de ansiedade extremamente intensas. O Afonso apresentava comportamento agressivo na escola, sem motivo aparente, sendo que no mês anterior um incêndio assolou a sua casa… A Maria passou a ter manifestações de ansiedade de separação da mãe e dificuldades em adormecer desde a morte da madrinha… A Inês foi assaltada e não conseguia andar sozinha na rua… Estes são alguns exemplos onde o recurso ao EMDR foi essencial para devolver o bem estar e confiança a estas crianças e adolescentes.
EMDR é a sigla para Eye Movement Desensitization and Reprocessing, um modelo psicoterapêutico integrativo que visa a resolução de perturbação associada a memórias ou eventos traumáticos. Tem por base um modelo teórico que defende que as dificuldades do presente são influenciadas por experiências perturbadoras do passado. Estas – juntamente com os pensamentos e sentimentos originais sentidos – são registados e guardados no cérebro de uma forma inadequada. Perante determinado gatilho do dia a dia desencadeiam-se reações disfuncionais. O EMDR parece desbloquear o processamento cerebral, a ativação fisiológica diminui, o sofrimento afetivo é aliviado, as crenças negativas são reformuladas e desenvolvem-se cognições positivas mais adaptativas. As memórias traumáticas tornam-se memórias normais.
Há muitos estudos de eficácia do EMDR especificamente em crianças e adolescentes, que comprovam as melhorias significativas e consistentes na sintomatologia apresentada.
Comparativamente a outras terapias, a utilização de EMDR com os mais pequenos tem algumas vantagens. Coloca menos exigências nas competências cognitivas e verbais e, portanto, parece particularmente adequado para crianças, não as expondo tanto, pois não tem de verbalizar o trauma ou evento adverso.
Obviamente que poderá não ser assim tão simples associar os sintomas a um evento perturbador em todos os casos como nos exemplos acima descritos. Muitas vezes o trauma pode ter acontecido tão cedo na vida que não é recordado, ou os pais podem nem identificar uma experiência que considerem marcadamente negativa na vida dos filhos. A entrevista com recolha de informação detalhada com os pais será indispensável. Pode recorrer-se ao EMDR em traumas simples a complexos, PTSD, luto de familiares ou animais de estimação, bullying, fobias, medos, perturbações de ansiedade, depressão …
Mas também pode ser utilizado para intervenção no vínculo com os pais (envolvendo-os nas sessões), para instalar recursos positivos, para melhorar a auto-estima, para ressignificar experiências através da construção de uma narrativa de vida.
Nota: Nem todos os(as) psicólogo(a)s estão habilitados a trabalhar com EMDR. Procure um profissional com formação específica em EMDR para a faixa etária infanto-juvenil.