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Cometi um grande erro… e agora?

Quando cometemos um erro, normalmente surge em nós uma de duas grandes emoções: CULPA ou VERGONHA.

Qual é a diferença entre elas e qual é o impacto de cada uma delas na nossa vida?

Enquanto a culpa nos diz “Bolas, o que fiz foi errado, cometi um erro”, a vergonha diz-nos “Eu SOU um erro; há qualquer coisa de errado comigo”. A culpa é o reconhecimento de que algo não foi feito da melhor forma, enquanto a vergonha é a atribuição de características negativas a nós mesmo, por termos feito algo de errado.

Apesar de serem ambas emoções desagradáveis, as nossas emoções servem funções específicas, funções que nos ajudam a sobreviver no nosso contexto e que nos ajudam na nossa relação com os outros e connosco mesmos.

Qual será então a função destas duas emoções?

A culpa pode-nos motivar para a ação, para repararmos o que foi quebrado, pedindo desculpa, mudando o nosso comportamento, esforçando-nos para não voltarmos a repetir o erro cometido. Pelo contrário, a vergonha faz com que acreditemos que o nosso comportamento é parte da nossa identidade. O comportamento passa a refletir quem nós somos. Deixamos de conseguir olhar para a ação como um comportamento errado, passando a vê-la como uma manifestação do quão mau, egoísta, preguiçoso, hipócrita, desleal eu sou. O comportamento passa a definir-nos enquanto pessoa, enquanto “um falhado” ou “alguém que nunca será amado”, o que gera uma enorme dor e uma diminuição da perceção do valor próprio.

A vergonha torna-se paralisante porque distorce a realidade, porque nos diz que o que fizemos de errado vem de um aspeto de nós mesmos que é inalterável. Diz-nos que somos defeituosos, danificados, sem possibilidade de reparação. A vergonha leva a uma maior defensividade, tentando encobrir o que fizémos, para que os outros não se apercebam do quão maus e quão falhados nos sentimos. Pode também levar a comportamentos de auto-punição, ao evitamento, à rotura de relações e mesmo a comportamentos destrutivos.

Quando falamos, por outro lado, do sentimento de culpa (não a culpa exagerada, associada a standards de desempenho irrealistas, mas a culpa realista, honesta) esta pode, na verdade, ajudar a melhorar as relações.

A vergonha diz-nos “mais vale desistires, tu simplesmente não és uma boa pessoa. Não és suficientemente bom, e nunca o serás. É melhor afastares-te e ficares sozinho”. A culpa diz-nos “Fiz mal. Preciso de pedir desculpa. Preciso de fazer com que as coisas voltem a ficar bem.”

Em resumo, a culpa dá-nos a oportunidade de restabelecermos e melhorarmos as nossas relações, enquanto a vergonha faz com que percamos oportunidades, nos isolemos dos outros, diminui a nossa auto-estima e aumenta a dificuldade de evoluirmos e crescermos, quer na nossa perceção de nós mesmos, como na nossa relação com os outros.

O que podemos, então, fazer com tudo isto?

Há 3 passos principais que nos podem ajudar a libertarmo-nos da vergonha:

1. Aprende a identificá-la

· De que forma é que a vergonha te costuma falar na tua vida? O que é que te costuma dizer?

· De que forma falas contigo mesmo quando mudas para o “modo de vergonha”?

· Escreve o discurso que esta vergonha tem contigo mesmo e, quando este discurso aparecer, identifica-o “Aqui está, isto é vergonha a falar”

2. Olha-a nos olhos

· A vergonha dissipa-se quando a olhamos nos olhos. Quanto menos falamos da vergonha que sentimos, maior o controlo que ela ganha sobre a nossa vida.

· Experimenta dizer em voz alta “a vergonha está-me a dizer que eu sou uma pessoa horrível”. Fala com um amigo ou com um profissional – alguém que te possa ajudar a identificar estas mentiras que a vergonha te vai dizendo, e a dissipá-las.

3. Considera qual a tua responsabilidade no assunto em questão

· Sentes que és uma pessoa horrível… que tipo de pessoa gostavas de te sentir?

· De acordo com que valores é que gostavas de agir? Os teus comportamentos podem sempre tentar chegar mais próximo dos teus valores.

Todos cometemos erros.

Quando cometes um erro, deixa que esta emoção de culpa comedida possa servir a sua função, orientando-te e motivando-te a fazer o que é necessário para reparar os erros e seguir em frente. Não caias na tentação de acreditar nas mentiras que a vergonha diz sobre ti. Tu não estás estragado. Não estás condenado. Não és irreparável.

Tu és suficiente. Tu tens valor.

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