Vivemos numa sociedade em constante mudança e envolvidos numa pressão comunicacional que nos condiciona para a adaptação a uma realidade e para escolhas que nem sempre convivem pacificamente com o que somos. É fácil entrarmos num jogo de comparações com os outros, tratando-se esta de uma batalha impossível de ser ganha. Assim, não é surpreendente que muitos de nós tenham dificuldade em gerir a imagem corporal ou que não gostemos de aspetos da nossa aparência física. Todos nós percecionamos “imperfeições”, mas muitos não lhes dão grande poder ou significando, aprendendo a aceitá-las. Tal é possível quando compreendemos que estes aspetos do corpo não impactam o nosso valor enquanto pessoas. No entanto, para alguns, os pensamentos negativos sobre o seu corpo consomem a sua autoestima e a forma de interagir com o mundo.
A nossa relação com a imagem corporal tende a refletir as vozes que ouvimos ao crescer – vozes da sociedade, família, pares, amigos… Vemos filmes em que as crianças são ridicularizadas pela sua aparência; somos bombardeados com modelos musculados ou com corpos irrealistas de serem alcançados para a maioria de nós, “comuns mortais”, ou, pelo contrário, com mensagens de que temos de amar todos os corpos; recebemos recomendações de avós e de pais de que “temos de comer mais” ou de que “temos de perder peso”…
Por exemplo, o termo “celulite” foi usado pela primeira vez em 1966 na edição de abril da revista Vogue. Contudo, apenas passou a ser visto como um problema para as mulheres quando se integrou no vocabulário popular em 1973 através da publicação de Nicole Ronsard intitulada “Celulite: Aqueles caroços, inchaços e protuberâncias que tu não conseguias perder antes” (Cellulite: Those Lumps, Bumps, & Bulges You Couldn’t Lose Before).
Estas vozes transmitem mensagens poderosas sobre como nos devemos sentir com o nosso corpo e com o corpo dos outros. Chega a um ponto em que as nossas características naturais passam a ser vistas como negativas, em vez de simplesmente neutras. Isto gera ações que visam o ganhar confiança ou esconder a falta dela, como maquilhar, fazer a depilação, fazer tratamentos para as rugas, entre outros… Por um lado, temos todo o direito de o fazer, e por outro, é importante reter que estas atitudes podem ser estimuladas pela cultura das dietas e pelas indústrias de beleza que beneficiam com a nossa necessidade de ser aceite, restringindo a nossa liberdade de verdadeira escolha. Com efeito, a cultura das dietas planta crenças de que a magreza é sinónimo de força de vontade, saúde, confiança e realização. Contudo, pode promover hipervigilância perante o corpo e a comida, gerando, ironicamente, mais insegurança, desconectando-nos dos sinais de saciedade e de prazer do corpo.
Já te aconteceu focares-te em como te sentes por causa do teu corpo em vez de simplesmente em como te estás a sentir, independentemente da tua imagem corporal? Quando o corpo ganha um espaço na nossa cabeça, um espaço de desconforto, tornamos o nosso amor-próprio condicionado em vez de incondicional…
E o que se pode fazer para promover a confiança no nosso corpo? Racionalmente podes perceber que a tua autocrítica é irrealista e disfuncional, mas não consegues sentir de forma diferente. Não conseguimos mudar o nosso sentimento de desaprovação sobre aspetos da aparência de um dia para o outro, mas há passos que podemos dar:
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Ganha consciência: que comportamentos ou pensamentos poderão demonstrar insegurança com o teu corpo? Será que evitas ir à praia pela exposição? Será que te sentes culpad@ por teres comido um certo alimento? Pesas-te várias vezes para monitorizar o número que aparece na balança? Estás a pensar ou a iniciar ou a sair de uma dieta? Dissecas o corpo no espelho? Sentes-te ansios@ por uma área particular do corpo ou cara e procuras escondê-la?
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Sê melhor amig@ do teu corpo: cuida dele através de terapias de sensações (massagens, yoga…)
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Todos os dias, reflete sobre o que o teu corpo te permitiu fazer naquele dia (e.g., abraçar o cão; caminhar). Quando o foco passa a ser o que o corpo faz, em vez de como é, promove a gratificação e o bem-estar.
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Afasta-te de perfis das redes sociais que possam potenciar comparações sociais e inseguranças.
Desafia-te a pequenos passos graduais para contestar a voz crítica dentro de ti. Tal como Ralph Waldo Emerson disse: Seres tu mesmo num mundo que está constantemente a tentar fazer de ti outra coisa, é a maior conquista.