O estigma internalizado (auto-estigma) é o processo pela qual uma pessoa internaliza os preconceitos e os estereótipos desenvolvidos pelos outros/sociedade acerca de uma determinada perturbação ou problema de saúde mental, incorporando essas crenças negativas no seu auto-conceito (internalização do estigma público).
O auto-estigma apresenta várias repercussões a nível psicológico. Por exemplo, traduz-se em sentimentos de desesperança, culpa e vergonha, e leva a uma pior autoestima e à auto depreciação. Algumas pessoas isolam-se com medo de serem rejeitadas devido à sua condição. Isto, por sua vez, está altamente associado a uma maior intensidade de sintomas psicopatológicos e menos intenção de procura de ajuda profissional. Por vezes, pessoas que já iniciaram tratamento chegam a descontinuar o mesmo.
A literatura aponta para uma relação significativa entre níveis elevados de auto-estigma e a adoção de estratégias desadequadas para lidar com os problemas do foro psicológico, manifestando-se posteriormente numa redução da qualidade de vida.
Porque é tão comum a internalização de crenças negativas associadas às condições psicológicas e à ida ao psicólogo? Se é perfeitamente normal e natural procurarmos um médico quando estamos com algum problema físico, porque é que isto não acontece ao nível das perturbações psicológicas?
Muitas vezes a estigmatização tem origem no próprio sistema de educação e nos meios de comunicação. Infelizmente, a doença mental ainda é retratada de uma forma muito negativa – por exemplo, os indivíduos são representados como pessoas agressivas, descontroladas, fracas, e com um péssimo prognóstico de recuperação. É também comum reduzirem a identidade destes indivíduos ao “doente mental”. Para além disto, ainda existe muita desvalorização da doença mental por parte dos próprios familiares e amigos da pessoa que sofre de perturbação mental. Muitas vezes são ditas coisas como: “isso passa, é tudo da tua cabeça, há coisas mais importantes”. A internalização destes rótulos torna-se prejudicial e impede as pessoas de procurarem a ajuda de que necessitam.
Posto isto, podemos afirmar que ainda existe muita falta de conhecimento relativamente à saúde mental e à área da psicologia. Vários estudos demonstram como a psicoeducação e o contacto com as perturbações mentais têm uma influência positiva na diminuição do estigma. Algumas sugestões dadas pela literatura são: começar por educar os profissionais de saúde, promover mais contacto com indivíduos que sofrem de perturbações mentais, e, sobretudo, aumentar a literacia em saúde mental na população geral, implementando programas nas escolas e diversas instituições.
Para concluir, e remetendo novamente para o conceito de doença física, se não desvalorizamos os problemas físicos, não devemos desvalorizar e estigmatizar a doença psicológica. Ambas são extremamente importantes e contribuem para o bem-estar e bom funcionamento do indivíduo. Portanto, deve-se continuar a falar sobre o estigma e a saúde mental, sensibilizando a população para estas questões, de forma a reduzir a internalização de estereótipos e preconceitos na doença psicológica.