É comum observar em consulta a dificuldade em distinguir ataques de pânico de ataques de ansiedade. E apesar de parecer tratar-se do mesmo, são na realidade diferentes respostas do nosso corpo.
Importa, antes de diferenciarmos estes tipos de reações, perceber a função que a ansiedade desempenha no nosso corpo e a razão pela qual temos determinados sintomas. Surge então a necessidade de explicar a resposta de luta, fuga ou congelamento (fight or flight response) que está programada no nosso cérebro. Esta resposta diz respeito a uma reação automática fisiológica do nosso organismo assim que prevê uma situação potencialmente stressante ou ameaçadora. A perceção de ameaça ativa o sistema nervoso simpático, potenciando uma resposta fisiológica que liberta adrenalina e cortisol. Estas hormonas vão, consequentemente, provocar o aumento da frequência cardíaca e respiratória, assim como da pressão sanguínea, fornecendo mais oxigénio e energia aos músculos para o corpo se preparar para a ação (quer seja para lutar, fugir ou congelar).
De um ponto de vista evolutivo, é possível observar que há alguns milhares de anos atrás, estes tipos de reações fisiológicas eram benéficas, uma vez que os seres humanos necessitavam de caçar e lutar para sobreviver. Estas necessidades levaram a que o nosso cérebro se programasse para detetar ameaças e reagisse perante elas.
No entanto, as ameaças de hoje em dia já não necessitam deste tipo de respostas, uma vez que já não precisamos de lutar ou caçar para sobrevivermos. O problema reside no facto de o nosso cérebro ainda não ter atualizado ao ponto de se adaptar às dificuldades dos dias de hoje, então age como que se os perigos fossem os mesmos que há milhares de anos atrás.
Desta forma, quer estejamos a falar de ataques de pânico ou de ansiedade, os sintomas associados dizem respeito a esta resposta de luta, fuga ou congelamento. Ambos podem despoletar sintomas como:
Diferenciando então um ataque de pânico de um ataque de ansiedade, pode afirmar-se que quando se trata de um ataque de ansiedade, este tende a ocorrer em resposta a um estímulo stressor (e.g., situação desconfortável, pensamento catastrófico, etc), e costuma ser menos intenso e a prolongar-se mais no tempo.
No entanto, o ataque de pânico carateriza-se por uma crise súbita, de grande intensidade e sem aviso, que leva a ter um medo exacerbado de estar a enlouquecer, a morrer (como a ter um ataque cardíaco) ou a perder o controlo, sendo de duração menor (em média 15 minutos), mas de intensidade maior.
É possível observar que em pessoas com tendência a desenvolver ataques de pânico ou de ansiedade, é desencadeada uma sensação de alerta constante e uma hipervigilância das sensações corporais, interpretando-as como catastróficas, o que vai induzir o aumento do medo e consequentemente o agravamento dos sintomas de ansiedade.
É ainda comum, em quem experiencia este tipo de reações, achar que se trata de alguma dificuldade física do seu organismo, como problemas cardíacos ou respiratórios, sendo as idas às urgências e o despiste de exames médicos muito frequente nestes casos. E de facto, antes de podermos concluir que se trata de questões relacionadas com a ansiedade, é recomendado que esse despiste físico seja realizado, por forma a eliminar outras possíveis explicações.
Quer se trate de um ataque de pânico ou de ansiedade, ambas as experiências são desconfortáveis, mas não são perigosas para o nosso organismo nem causam danos permanentes no corpo. Contudo, se forem frequentes, aconselha-se o acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico no sentido de aprender estratégias para lidar e diminuir este tipo de respostas fisiológicas tão intensas.