Para não variar escrevo este texto baseado num episódio com a minha filha. Tínhamos acabado de ver o filme Entrelaçados (versão da Disney da Rapunzel) que acabou com o característico “viveram felizes para sempre” quando a minha filha diz em tom de piada “até ao dia seguinte”.
Realmente, pensei, gerações cresceram com este final, com a representação de que uma relação é apenas um episódio, uma luta breve, que depois de uma grande festejo entra numa estranha mesmice de eterna felicidade se se pode chamar assim.
Rapidamente nos apercebemos que até podem existir finais felizes, mas não passam necessariamente por um “viveram felizes para sempre”, e que o episódio, a luta “breve” a ser ultrapassada e vencida, por vezes é constante e agridoce.
É normal que seja constante. Mais não seja porque não existem contos de fadas mas também porque uma relação adulta, entre pessoas que se vêem como iguais e onde existe mútuo respeito, é cheia de desafios, compromissos, cedências e frustrações que andam de mão dada com uma série de prazeres, alegrias e entendimentos.
Por vezes encontro casos onde um, ou ambos, elementos de uma relação, se esqueceram disto. Esqueceram-se (será que alguma vez souberam?) que uma relação é mais do que amor imediato, mas também um encontro de duas pessoas que decidiram partilhar objectivos de vida. Ou seja, ficaram presos no “viveram felizes para sempre”, ignorando que existe um dia a seguir, e outro dia, e outro dia depois desse. Então são também pessoas que sentem grande dificuldade em viver com os desafios, as dificuldades, os compromissos e as frustrações, só querendo, de um modo egoísta, o prazer e a alegria instantâneo. Em suma, querem amor, sem nunca terem dado amor primeiro.
Também nas relações o retorno não é imediato, mas aquilo que é cultivado para nós e para o outro.