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Sou recém mãe...e não, não está a ser espetacular!





Ser mãe é um dos grandes sonhos de muitas mulheres, sendo que, este sonho começa a ser construído, em alguns casos, muito tempo antes da decisão de engravidar. Contudo, este desejo de ser mãe é acompanhado por grandes desafios, adaptações, alterações no papel de mulher, sentimentos de ambivalência e, por vezes, quadros mais graves que conduzem muitas vezes a estados depressivos e de ansiedade.


Nem sempre a gravidez é tranquila e nem sempre a mulher lida com ela de forma harmoniosa. As alterações que se fazem sentir são capazes de causar uma grande desorganização emocional e, é importante que a mulher continue a sentir-se amada, valorizada, apoiada e ajudada, tanto pelo outro elemento do casal como pela família mais alargada. É importante que se adote uma postura suportiva e nunca de crítica, que se respeitem as decisões tomadas sobre as coisas que dizem respeito à mãe, ao bebé e ao próprio parto.


Mas, as grandes mudanças fazem-se sentir após o nascimento do bebé, onde as dificuldades são muitas, a adaptação tem que ser rápida e onde é mais suscetível ocorrer um quadro depressivo. Todas as rotinas se alteram e, sem muita margem para a recuperação da mãe. O papel em que a mulher se reconhecia altera-se totalmente, tendo nessa fase que se dedicar quase exclusivamente ao bebé e ao papel de mãe. Entra numa “zona de desconforto” e precisa desempenhar novas funções. Ao mesmo tempo, tenta lidar com as alterações do próprio corpo, tenta continuar a ser esposa e, por vezes, ainda lhe é exigido continuar a manter uma imagem cuidada. Surgem ainda as visitas, as opiniões e as intromissões.


Com um contexto tão exigente, surgem frequentemente os sentimentos de tristeza, de baixa autoestima e até de inutilidade. Põe-se em causa a capacidade de cuidar do bebé e os pensamentos tornam-se muito negativos, gerando crenças de que não é boa mãe ou de que não gosta do seu bebé, o que alimenta ainda mais a culpa. Uma mulher que tenha vivido uma gravidez com presença de sintomas depressivos ou com histórico prévio, poderá estar mais vulnerável e, é importante a família estar atenta a sintomas, muitas vezes subtis. Pode denotar-se algum distanciamento em relação ao bebé, podem surgir verbalizações negativas ou apenas sentimentos de tristeza, sem causa aparente. É também comum surgirem pensamentos obsessivos, geralmente acerca do bebé e do seu bem-estar. Entre os sintomas mais graves poderá estar a rejeição do bebé ou a ideação suicida.


É importante entender que, alguns sentimentos são normais nos primeiros dias, não devendo a família exercer pressão, mas sim ajudar e aliviar a carga física e emocional da recém mãe. As visitas devem ser restringidas numa primeira fase às pessoas mais próximas que podem, sempre que possível, ajudar com algumas tarefas domésticas consideradas essenciais. É também importante escutar a mãe e os seus desabafos, mas sempre de forma isenta de crítica ou de responsabilização. As pessoas em volta devem adotar uma postura empática, colocando-se no lugar da mãe, o que implica olhar para as situações através da “lente” daquela mãe, mostrando a sua aceitação em relação àquilo que ela sente. As comparações com outras mulheres também devem ser evitadas, pois, por norma nunca favorecem a recém mãe. Cada casal tem uma identidade própria, cada mãe tem a sua individualidade e a sua forma de fazer as coisas, não significando que esteja errada. O aconselhamento deve ser dado quando solicitado e, falar da experiência de outras mães deve ser feito de forma a não magoar ou criar sentimentos de inferioridade.


De igual modo, devem ser retiradas pressões como o dever de estar feliz porque o bebé nasceu. A perceção de felicidade é algo muito individual e influenciada por múltiplos fatores. A mãe tem o direito de se sentir triste e, embora seja uma emoção considerada negativa, ela é normal e legitima ao ser humano. Apenas se transforma num sinal de alerta quando é persistente e compromete o equilíbrio da pessoa. De igual modo, decisões sobre a amamentação são da exclusiva responsabilidade da mãe, do casal e da equipa médica que os acompanha. Nem sempre a amamentação é possível ou é a melhor opção para aquela mãe e aquele bebé.


Os familiares são, por norma, as primeiras pessoas a identificar possíveis sintomas de depressão ou que algo não está a correr bem, já que, a própria pessoa está tão envolvida com os próprios sentimentos e o desejo de desempenhar aquele papel, que dificilmente tomará consciência de que algo não está bem. Se necessário, podem e devem aconselhar uma consulta com o médico ou psicólogo, de modo a identificar os sintomas e minimiza-los numa fase precoce. Passar por uma depressão pós-parto pode acontecer a qualquer mãe, não sendo sinal de fraqueza ou do desempenho de um pior papel de mãe. Pelo contrário, por vezes, o querer tanto ser boa mãe e o amar tanto o seu bebé, pode muitas vezes estar associado ao desencadear de sintomas depressivos e de ansiedade.


Acima de tudo, é importante ter em mente o apoio e o suporte, não criticando, não comparando e continuando a valorizar aquela mulher como a mulher que sempre foi e, agora, como a mãe que é, independentemente das práticas que esta adotar ou dos sentimentos que tiver.

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