Quando as pessoas se apaixonam, esse sentimento parece casual e aleatório, mas será que é mesmo assim?
Se pensarmos em relações duradouras, verificamos que se cria um vínculo entre as pessoas, uma ligação especial e significativa que pode durar anos, quiçá uma vida inteira.
Na minha prática clínica, como terapeuta individual e de casal, deparo-me muitas vezes com dificuldades nas relações amorosas que estão relacionadas com o Estilo de Vinculação de um, ou de ambos, os elementos do casal.
Bowllby, psicanalista britânico do século passado, ficou conhecido como o pai da Teoria da Vinculação e definiu a vinculação como uma relação emocional profunda e duradoura que liga uma pessoa a outra no tempo e no espaço.
A Teoria da Vinculação confirma a importância das relações humanas e as suas consequências no desenvolvimento individual. A criança internaliza representações desta relação preferencial e cria um estilo de vinculação que influenciará as suas relações interpessoais futuras.
Os principais estilos de vinculação amorosa são:
Estilo de vinculação Seguro: Este é o estilo de vinculação mais saudável e aqui se incluem pessoas com facilidade em mostrar afeto ao companheiro/a. Sabem transmitir os seus sentimentos com clareza, honestidade e conseguem compreender os sentimentos do/a companheiro/a. Sentem-se à vontade para partilhar o que sentem com a pessoa de quem gostam.
Estilo de vinculação Ansioso: A pessoa tem normalmente facilidade em ligar-se ao/à companheiro/a e consegue criar uma intimidade profunda desde o início. Mas tem muito medo de que o/a companheiro/a não deseje criar laços tão profundos. Tende a prestar muita atenção a todos os detalhes e faz com frequência interpretações erradas do comportamento da pessoa que ama (por exemplo, se verifica que a pessoa de quem gosta, leu a sua mensagem e não respondeu logo, fica com medo de já não ser amado/a).
Estilo de vinculação Evitante: A característica fundamental é a necessidade de independência. A pessoa tende a deixar alguma distância na relação amorosa e mostra dificuldade em assumir um compromisso claro, interpretando alguns sinais como tentativa de controlo. Perante uma separação, não perde muito tempo a pensar na relação.
Estilo de vinculação Evitante/Ansioso: Uma pequena percentagem de pessoas desenvolve um estilo de vinculação amorosa que combina características evitantes e ansiosas.
Cada pessoa tem um estilo de vinculação predominante, fruto das suas primeiras experiências afetivas (geralmente com os pais) e das relações amorosas que viveu. Esse padrão é relativamente estável, mas é possível moldá-lo, no sentido de construir relacionamentos mais felizes.
Na verdade, o amor não é aleatório! As pessoas tendem a fazer escolhas amorosas de acordo com o seu referencial e o seu estilo de vinculação predominante. Podemos imaginar a dificuldade de relação num casal em que um dos elementos é ansioso e o outro evitante, o primeiro precisa de manifestações constantes de que é amado (mensagens, gestos de carinho) e o segundo interpreta esta necessidade como tentativa de controlo.
Mas como dizia Coimbra de Matos, psicanalista português que tive o gosto de ter como professor, o amor pode ser terapêutico! Uma relação equilibrada pode ajudar a desenvolver um estilo de vinculação seguro e uma forma mais saudável de amar.
E quando isso não acontece na relação amorosa, temos sempre a psicoterapia!
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