Não queremos que algo de mal aconteça às crianças e temos a tendência a protegê-las, o que é compreensível. O problema surge quando para que isso aconteça, tentamos impedir que elas vivenciem ou experimentem qualquer tipo de situação potencialmente perigosa, qualquer emoção com uma conotação mais negativa, ou até situações em que não existe qualquer perigo, em que apenas queremos facilitar o comportamento da criança (certamente já viu, por exemplo, pais a responderem pelos filhos e a não dar tempo para que eles possam elaborar uma resposta). Desta forma, estamos a entrar na área da superproteção, e devemos ter cuidado com este tipo de comportamento para que não prejudique o desenvolvimento da criança ao nível da resolução de problemas, da autonomia e da capacidade de lidar e gerir situações difíceis. A criança deve, ao longo do tempo, desenvolver a capacidade de se relacionar com o outro, com o mundo e a capacidade de se expressar e de se regular emocionalmente.
Quando superprotegemos, não damos hipótese à criança de ela explorar o mundo e compreender autonomamente o que deverá fazer em determinada situação. Se estivermos sempre presentes e a ampará-las, elas vão habituar-se a ter esse amparo e vão esperar sempre que alguém lhes diga como fazer ou que façam por elas. Isto é uma ideia irrealista e ilusória sobre o mundo e sobre as adversidades que elas irão ter de enfrentar no futuro, portanto poderão não estar preparadas para a realidade que vão vivenciar quando o adulto não estiver por perto. Transmitir a ideia de que a criança nunca irá passar por momentos de dor e sofrimento é irreal. A criança que cresce demasiado protegida pode começar a fomentar a ideia de que ela é incapaz de lidar com os seus problemas.
De facto, esta superproteção pode ser uma falsa proteção, uma vez que dá a sensação de que as coisas se resolvem por si só, não tendo a perspetiva do processo que se fez até ao resultado final. Proteção é proteger dando oportunidades, proteção é estar ao lado da criança caso ela necessite de ajuda, e não tomar logo a iniciativa de resolver por ela.
Algumas dicas que poderão ser úteis para fomentar a independência do adulto:
- Transmita confiança e mostre que confia nas capacidades do seu filho, verbalizando-o (“Tu consegues enfrentar isto!”; “O que achas que podes fazer nesta situação?” ao invés de “Não te preocupes que eu vou resolver esta situação”);
- Permita que o seu filho faça as suas próprias escolhas, enquanto se mantém ao lado dele a orientar (se necessário), ao invés de ficar à frente a desimpedir o caminho de potenciais perigos;
- Reconheça a individualidade do seu filho, perceba o que ele é capaz de fazer (tendo em conta a faixa etária e nível de desenvolvimento) e evite comparações com outras crianças;
- Cuidado com verbalizações como “Não se pode confiar em ninguém” ou “O mundo é um lugar perigoso” porque poderá gerar na criança um estado de alerta constante e impedi-la que explore o ambiente à sua volta;
- Motive a criança quando errar, compreenda a frustração que ela está a sentir e reflitam em conjunto sobre o que ela poderá fazer de forma diferente na próxima vez.
Lembre-se que o objetivo é não eternizar na criança a sensação de dependência do adulto, chegando a um momento em que o papel de orientação dos pais se torna desnecessário (e isto não é sinónimo de abandono, claro), porque a criança já consegue resolver as situações que lhe surjam de forma autónoma.
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