‘Eu faço tudo para lhe agradar e mesmo assim ele não gosta de mim’
‘Se esta relação terminar a minha vida acaba’
‘Eu sem ela não sou ninguém’
‘Estou sempre disponível e ele não retribui o meu afeto…não compreendo’
Quando o nosso bem-estar depende inteiramente de agradarmos apenas à pessoa que amamos, se vivemos em função apenas dela e a nossa valorização passa exclusivamente pelo amor retribuído, então estamos perante uma dependência emocional e não de amor. O ‘amor’ do outro passa a ser uma droga sem a qual não se pode passar e sem, muitas vezes, se perceber que nos estamos a anular por completo.
O comportamento na dependência emocional é idêntico ao de qualquer outra dependência (ex: droga, álcool, tabaco, etc.), em que a pessoa tenta preencher um vazio que sente e que, neste caso, passa por depender totalmente de um outro e ser ‘escravo’ desse amor. Logo, esta dificuldade tem de ser analisada e objecto de atenção, como qualquer outro ‘vício’.
São cada vez mais recorrentes em consulta os casos de pessoas que estão em relações que não as satisfazem, que chegam a ser tóxicas e das quais não se conseguem desprender. Esta dualidade entre uma dificuldade imensa em estar sozinho e um descontentamento em permanecer numa relação que não é satisfatória, mas da qual se necessita, é fruto de um enorme sofrimento. Isto acontece, pois estas pessoas têm uma enorme necessidade de serem cuidadas por um outro, ao mesmo tempo que querem ser independentes, mas não se sentem capazes de estar sozinhas a cuidar de si próprias.
Quais são as características de alguém com dependência Emocional?
1. São pessoas com grande necessidade de serem cuidadas e são invadidos por sentimentos de desconforto e desamparo quando sozinhos, por medo exagerado de serem incapazes de cuidar de si próprias
Estas pessoas poderão ter aprendido na sua infância que o mundo é um sítio 'perigoso' para se estar sozinho e que precisam sempre de outra/outras pessoa (as) para tomarem conta de si ou que é difícil sobreviver sem ajuda. Desta forma, não conseguem lidar com a sua vulnerabilidade, sentindo-se sozinhas e desamparadas quando entregues a si mesmas. Necessitam ser sempre protegidas e cuidadas por pessoas nas quais depositam esse papel e tentam a todo o custo criar laços com elas.
2. O seu comportamento é usualmente submisso e costumam ter dificuldade em discordar dos outros por medo de perder suporte ou aprovação
Uma vez que necessitam sempre de alguém que cuide deles, fazem todos os esforços possíveis e imagináveis para agradar a essa pessoa e impedir que ela os abandone, pois isso seria o seu fim. Assim, elas passam a ser o que os outros querem que sejam (ex: cortam o cabelo, vestem-se da forma que a outra pessoa gosta; fazem tudo o que a outra pede; modificam a sua forma de pensar e ver o mundo, mesmo que entre em choque com os seus ideais, etc) e 'mendigam' contantemente o amor do outro, não se apercebendo que deixam de ser elas próprias. Obviamente, conclui-se que este tipo de pessoas que se submete às vontades de outrém e se anula tem uma auto-estima extremamente baixa.
3. Tendem a ter muita dificuldade em tomar decisões sem um excessivo aconselhamento e tranquilização pelos outros. Acabam por transferir as responsabilidades para os outros na maior parte das áreas importantes da vida.
Tendo em conta que são pessoas com uma auto-estima reduzida, têm muita dificuldade em confiar nelas próprias, nas suas escolhas, no que pensam e no que querem realmente. Assim, necessitam sempre de ver as suas decisões diárias confirmadas por terceiros para as conseguirem tomar, tal como também acabam por concordar com as opiniões dos outros mesmo que não tenham a mesma visão, pois nunca acreditam que a sua opinião tem valor, e têm pavor de estar errados. Por conseguinte, ao não conseguirem tomar decisões por receio, preferem passar toda a responsabilidade para outras pessoas, pois têm sempre uma sensação de incompetência e de não serem capazes ou de lidar com as dificuldades sozinhos.
4. Dificilmente iniciam projetos ou fazem coisas por sua conta
Ao não confiarem nelas próprias tudo o que envolve tomar decisões e, especificamente, decisões que partam delas, nem sequer é uma hipótese. Necessitam sempre da aprovação e tranquilização de terceiros.
5. Com frequência se entregam a excessos para obter cuidados e apoios dos outros, ao ponto de se oferecer como voluntário para tarefas desagradáveis
Ao terem uma necessidade constante de agradar para serem 'amados', disponibilizam-se para prestar auxilio sempre que lhes é ou não solicitado, dispondo-se a fazer tudo 'por amor'. Frequentemente, transferem a responsabilidade da sua infelicidade para a outra pessoa do relacionamento, por muitas vezes sentirem que fazem tudo em prol do outro, mas que não são apreciados ou não lhes é dado 'amor' na mesma devoção.
6. Procuram urgentemente outras relações, em substituição de alguma relação íntima terminada
O vazio que sentem é constante e necessitam de o preencher com outro relacionamento, que se torna o centro da sua vida, pois elas não se bastam a si próprias. Ficando totalmente dependentes do outro em todas as áreas da vida (ex: afectiva, sexual, económica, profissional e social).
7. Costumam ter preocupações irreais com o medo de ficar entregue a si próprios
Considerando que estas pessoas sentem que precisam que alguém cuide delas, não concebem uma vida em que tenham de passar tempo sozinhas, sentindo sempre que lhes falta algo, que estão vulneráveis ou desprotegidas. Têm um medo excessivo da sua liberdade, não sabendo o que fazer ou como conviver com ela.
Todas estas dificuldades podem ser ultrapassadas com a ajuda de psicoterapia. É necessário trabalhar a auto-estima e auto-confiança; a assertividade (capacidade de auto-afirmação em detrimento da passividade); promover o auto-conhecimento e a motivação pessoal; a capacidade de gestão de emoções; fomentar uma visão das relações interpessoais como uma troca recíproca, etc.
Se sente algumas destas dificuldades ou conhece alguém que esteja a passar por elas, procure ajuda de um profissional de psicologia clínica, pois, se estivermos abertos à mudança, é sempre possível melhorar o nosso bem-estar.
(Fonte: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013. )
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