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O stress do regresso ao trabalho

Atualizado: 22 de abr. de 2020


Se ainda havia dúvidas quanto ao mês em que estamos, o transito de agora clarifica qualquer confusão.


Uns apitam ao transito parado, na esperança que os novos carros ecológicos se movam com som, outros ziguezagueiam entre filas sem se entender se querem mudar de faixa ou intencionalmente abalroar uma mota, mas no geral, a tensão é palpável. Mais do que fumo dos tubos de escape há irritabilidade no ar.


É normal. Com o inicio do ano escolar há um final definitivo do período de ferias e um retomar da rotina.


O trabalho é um bicho ambivalente. É esquizofrenizante. Por um lado, aparenta ser uma coisa que nos faz bem, mas por vezes, não compreendemos lá muito o porquê, mas faz bastante mal. Esta dualidade é desgastante. É desgastante porque queremos e precisamos de investir pessoalmente nesta coisa chamada “trabalho”. Investimos motivação, energia relacional e psíquica no brio profissional, no bem-estar entre colegas, na atenção e entrega.


Quando investimos pessoalmente no trabalho há um retorno imediato e positivo. Boas relações, bom ambiente, motivação alta, etc., etc., mas (e há sempre um mas, é o tema geral deste texto) quando inevitavelmente o trabalho sofre um percalço, não é apenas uma tarefa seca e mecânica que falha, é um investimento pessoal que se sente como desfraldado.


Então o que fazer?

O que nos faz mais sentido.

Com consciência das diversas consequências, devemos optar por aquilo que enquanto pessoa nos faz sentido e nos faz sentir bem. Simplificando por excesso, investimento pessoal tem mais valias, mas aumenta a mágoa nos períodos menos agradáveis. Mecanização e instrumentalização do trabalho e dos colegas protege emocionalmente, mas leva ao vazio e à falta de propósito. É um trade-off. Não há nenhum método correto ou errado, há, ou deve haver, um ajuste a circunstâncias, a colegas, a tarefas, etc., e um ajuste que pode acontecer em anos, meses, ou mesmo ao longo do dia conforme necessário.


Claro que existem especificidades; tão vastas que não conseguiríamos falar de todas aqui. Por vezes as fontes de stress e mal-estar têm origens numa só fonte mas no geral o stress no trabalho vem de condições do individuo (personalidade, tolerância à ambiguidade e/ou mudança, motivação e comportamentos), carreira (segurança, possibilidades e oportunidades), relações (chefias, colegas, confiança), mundo exterior (conciliar horários, exigências familiares) e estrutura da organização (horários, politicas internas).


Mas no imediato, o que fazer de modo a facilitar este ajuste sazonal?


Quem me conhece em consultas sabe que eu repito isto à exaustão: a frustração tem um custo, e tem que ser paga com prazer.


É uma ideia que me foi ensinada nos meus anos de formação, e ainda me lembro claramente da altura em que uma psicóloga me ensinou isto: a frustração, o trabalho neste caso, normalmente é combatida a “descansar”.


É conversa frequente em consulta. “O que faz para descansar?” – “Descanso…não faço nada, fico a descansar”. É esta a confusão, “não fazer nada” e “descansar” não são sinónimos. Se imaginarmos a vida como uma balança, onde de um lado metemos “frustração” e do outro lado “prazer” será que “não fazer nada” é um prazer? Pode ser. Biológica e psicologicamente a necessidade de “não fazer nada” pode ser um prazer. Esporádico, ocasional.

Mas ter prazer é mais do que “não fazer nada”, na verdade é justamente “fazer algo”. Sair, ir ao cinema, ir passear, ler, combinar jantares com amigos, ficar a par com aquela série de televisão que andamos a adiar, beber aquele café que dizemos sempre “a ver se marcamos”. É justamente quando o dia é pior, quando aquela sexta-feira demorou horrores a chegar e a pessoa se sente derrotada que deve usar, não a energia do trabalho, mas a energia do prazer “egoísta” e dar-se ao trabalho de fazer o que lhe dá prazer.


Se não for por mais nada, pela segurança rodoviária, vá fazer o que lhe dá prazer.

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