Andamos, na maioria das vezes, muito focados apenas no comportamento das crianças. Na verdade, o comportamento dos pequenotes tem algo a esconder – as emoções. Sabia que a forma como as crianças se estão a sentir determina a forma como se comportam? Por isso, necessitamos de prestar mais atenção àquilo que sentem tal como prestamos àquilo que fazem.
É comum receber crianças em consultório que manifestam problemas comportamentais que preocupam os adultos. Pais e professores queixam-se de que a criança grita, atira com os brinquedos, têm reacções exacerbadas quando contrariada… O que realmente significam estas manifestações? Estão associadas às dificuldades que a criança tem em reconhecer e dar nome ao que sente e não saber como gerir as emoções, por exemplo, frustração ou raiva. Quando ensinamos à criança, aos pais e/ou professores estratégias que lhe permitam manifestar o que sente de forma adequada e acalmar-se, então terá mais facilidade em controlar os impulsos e regular o seu comportamento.
Noutros casos, algumas crianças ou adolescentes não dão nas vistas devido ao seu comportamento desajustado, pelo contrário, podem ser perfecionistas até! Não gostam de quebrar regras, reagem de forma negativa quando erram, ou quando são criticadas, demoram a fazer as tarefas, pois repetem-nas até darem o seu melhor. Estes comportamentos, por vezes, estão associados a dificuldades em lidar com padrões negativos de pensamento, por exemplo, “não posso falhar”, “Se eu errar vou desiludir os pais” e a dificuldades em verbalizar as suas preocupações.
E quando a criança se esconde atrás dos pais e não quer interagir com outras pessoas, recusa ir a lugares desconhecidos ou fazer atividades novas? Estará deliberadamente a tentar chatear ou desobedecer aos pais? Não! Estas são atitudes que demonstram dificuldade da criança em sair da zona de conforto, ou em lidar com a ansiedade que uma mudança ou novidade implica. Não sendo capaz de verbalizar as suas preocupações e medos, manifesta a sua dificuldade em lidar com a situação através de um comportamento evitante. Crianças mais tímidas ou crianças mais ansiosas têm mais necessidade de planear e compreender as novas situações para se adaptarem às mesmas.
Neste sentido, observe com atenção e curiosidade o comportamento do seu filho e tenha em mente que aquilo que ele faz será um reflexo do que está a sentir. Ajudá-lo a desenvolver a sua inteligência emocional favorece o relacionamento consigo próprio e com os outros, o controlo de impulsos, melhora a aprendizagem, a flexibilidade face à contrariedade, facilita a resolução de problemas e previne o desenvolvimento de problemas psicológicos e sociais.
Raquel Carvalho
Psicóloga Clínica
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