Vivemos em tempos exigentes no que diz respeito ao concílio entre as nossas responsabilidades e o tempo livre. Se é pai e mãe, e sente isto, desengane-se se acha que as crianças e jovens não sentem o mesmo. Na verdade, também elas entram cedo na escola (na maior parte das vezes mais cedo do que os pais no trabalho), têm intervalos de 10 minutos, têm aulas à tarde e muitas delas, quando saem da escola, ainda vão para centros de estudo, estudar e fazer os seus trabalhos escolares. Torna-se verdadeiramente um desafio conciliar o sucesso e a frequência académica com atividades mais livres que cumprem uma função de relaxamento, descontração, relacionamento com pares e desenvolvimento de uma competência específica, como um desporto, língua ou instrumento musical.
Para além do interesse em si mesmo numa destas atividades, surge muitas vezes um Talento associado, isto é, não só um interesse específico numa área, mas também uma aptidão natural (e aprendida) para a desempenhar. Um talento representa efetivamente um nível superior de capacidades para desempenhar determinada função, que surge de forma intuitiva, mas que, ao longo do tempo pode ser desenvolvida sobressaindo uma aptidão excecional para aquela mesma atividade.
Quando um filho evidencia um determinado tipo de talento, por exemplo no desporto, música, teatro, expressão artística, os pais devem valorizar e potenciar, oferecendo oportunidades no meio ambiente para ele se desenvolver. É importante permitir que o seu filho desenvolva o talento se isso o deixar feliz. Quando temos a possibilidade de desenvolver uma atividade prazerosa, produzimos substâncias químicas como serotonina e dopamina, que elevam os nossos níveis de bem-estar e auto-estima. Estas atividades estão por isso associadas a bons níveis de satisfação e felicidade com o dia-a-dia, e de uma forma geral com a vida, pois é instalada uma reciprocidade positiva entre os contextos, nomeadamente com a escola, onde os níveis motivacionais aumentam e o aluno consegue melhores resultados escolares.
Pretende-se assim que o desenvolvimento de um talento não seja totalmente exclusivo na vida do seu filho, mas sim complementar a outras áreas, nomeadamente em integração com a escola, amigos, família e tempo livre. Quando o desenvolvimento do talento é levado de forma intensa e priva das necessidades anteriormente referidas, pode trazer stress à família. Nunca se esqueça que Ser criança é a tarefa principal de uma criança.
A família desempenha um papel fundamental para uma relação equilibrada entre o seu filho e a exigência associada ao desenvolvimento de um talento. Uma base segura familiar, o afeto e a compreensão são fundamentais para manter uma criança e jovem em harmonia consigo próprio. É fundamental tornar o dia-a-dia do seu filho estável e previsível, isto é, com rotina, garantindo essencialmente o horário de sono e o padrão alimentar regulado.
O acompanhamento psicológico é relevante se o seu filho mostrar dificuldade na gestão do sono, alimentação, confiança pessoal, auto-estima, regulação emocional e comportamental. A família também poderá beneficiar de consultas de psicologia no sentido de promover boas práticas parentais num dia-a-dia mais exigente para todos. Também é fundamental os pais refletirem sobre os seus próprios sonhos inalcançados quando eram crianças, uma vez que podem transferir para os filhos essa expetativa, o que faz aumentar a pressão na forma como lidam com o talento do filho.
Diana Fonseca
Psicóloga Clínica
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