Perturbação Narcísica da Personalidade – O caso de “Rosa” (nome fictício)
Já não vejo a Rosa há muito tempo. Deve ter mudado de cidade, ou a sua presença já se teria feito notar. Ela própria se certificaria em não passar despercebida.
Falava alto, com gestos largos, numa atitude de grandiosidade e de auto-importância, que exibia com um certo ar de status e privilégio. Onde quer se chegasse achava-se sempre com direito a tratamento especial, e revelava uma necessidade marcada de atenção. Essa necessidade de protagonismo acompanhava-a desde que acordava até que adormecia.
Tudo o que a Rosa fazia centrava-se em torno das suas próprias necessidades ou desejos, e na procura de valorização, talvez por uma suspeita inconsciente de não ter muito interesse para os outros. Facilmente se enfurecia quando não lhe era dada a atenção que julgava merecer, ou o elogio e a admiração que esperava.
De personalidade extrovertida, podia ser divertida e emocionante, e mesmo popular, até se revelar incapaz de ser empática, e mostrar insensibilidade ou pouco interesse nas necessidades dos outros. Poderia fingir, só para parecer melhor, mas pouco se importava com o tipo de dor que pudesse infligir aos outros.
Nunca a vi fugir de uma controvérsia ou desentendimento. Aliás, era até muito propensa a argumentar e em envolver-se em discussões, quando sentia que estava a perder o controlo da situação. Aí revelava-se e, enraivecida, praguejava com linguagem vulgar, e reagia desproporcionadamente a pequenas coisas, ou contra alguém que não apoiasse a grandiosa imagem que tinha de si mesma.
Era característico o olhar vidrado da Rosa, mostrando desinteresse ou enfado quando os outros falavam, ou o sorriso irónico e escarnecido que não escondia a inveja, e até mesmo o desdém, quando confrontada com as realizações ou os sucessos dos outros. Quem não se submetia ao seu carácter manipulador e egocêntrico, tornava-se num alvo a desvalorizar a todo o custo, dedicando-se a minar o prestígio e a reputação de quem pudesse fazer-lhe sombra.
A Rosa julgava-se única e superior, e realmente acreditava que todos a tinham em alta estima, e mostrava-se hipersensível quando esse reconhecimento não acontecia. Mas funcionava completamente alheada das sensibilidades dos outros, e conseguia ser até perversa para com as vítimas dos seus relacionamentos amorosos.
Mas gostava de ser como era, e não reconhecia em si qualquer falha ou imperfeição. Se problemas existissem era nos outros. Ela conseguia tudo o que queria e vangloriava-se por conseguir manipular qualquer pessoa ou situação a seu favor, mantendo-se totalmente abstraída de como o seu funcionamento a tornava vulnerável a uma vasta gama de emoções negativas, que perpetuavam a sua personalidade autocentrada e excessivamente defensiva.
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