Uma parte muito significativa das pessoas, tende a ter mais facilidade em enumerar os seus defeitos do que as suas qualidades. Parece que somos ensinados a não nos valorizarmos, a ser modestos e humildes, como se a nossa autoconfiança pudesse ser confundida pelos outros com arrogância. Além disto, a sociedade é muito crítica, as crianças começam desde cedo a ridicularizar os pares e há ainda uma tendência do ser humano para minimizar o outro para assim alimentar a sua autoestima. Acresce ainda toda a imagem idealizada que nos é incutida por padrões de beleza irreais mas vendidos como reais. Tudo isto se transforma em “filtros” que colocamos quando estamos a analisar a realidade, fazendo com que ela nos pareça bem pior do que na verdade é.
A imagem idealizada e a expectativa de sermos de determinada forma que achamos ser o ideal, tem um impacto significativo na forma como percecionamos a realidade, uma vez que ao olharmos para a realidade estaremos sempre a compará-la com esses nossos padrões, o que é, por vezes, desastroso. Jamais conseguiremos ser perfeitos e existirá sempre alguém mais bonito ou melhor que nós, até porque, o que para uns é belo para outros não o é. Por isso, as expetativas devem ser ajustadas e realistas, a par com a existência de um processo de aceitação de nós próprios, mesmo que não sejamos perfeitos.
Algumas pessoas olham para imagem refletida no espelho de forma muito séria. Mas, os espelhos não são sempre maus, apenas o são quando não aceitamos a imagem que eles nos devolvem ou quando distorcemos essa mesma imagem. Quando o nosso foco e fonte de realização está apenas na aparência física, a relação com o espelho torna-se uma relação de dependência. E às vezes, os espelhos mentem, ou, nós é que nos mentimos ao interpretar erradamente a imagem e informação que eles nos dão.
Nós somos os primeiros a ter que gostar de nós. Somos os primeiros a ter que gostar daquilo que vemos e a aceitar aquilo que vemos. O espelho pode ser nosso amigo, quando interpretamos corretamente a informação que ele nos dá, quando o usamos para gostar mais de nós e nos aceitarmos, mesmo não sendo perfeitos.
O espelho tanto pode ser amigo como inimigo: amigo quando o usamos com moderação e prudência, quando não ficamos presos àquilo que ele nos devolve, quando não interpretamos a imagem devolvida de forma errada, quando não dependemos dele ou quando o usamos para nos sentirmos bem connosco próprios e não para agradar a terceiros.
Torna-se um inimigo, quando passamos muito tempo com ele, quando dependemos dele nos dar sempre uma imagem esplendorosa, quando permitimos que a nossa autoestima seja diminuída por uma imagem que não corresponde ao nosso ideal de beleza.
Aceitando que não somos perfeitos, que nunca seremos iguais a ninguém, que somos pessoas com caraterísticas e valores próprios. Ser diferente de alguém ou do que já fomos em tempos não mau, devemos por isso valorizar o que somos no agora, as aprendizagens que fizemos, as vivências que tivemos. Não focar apenas na imagem física é outra regra de ouro, devemos alimentar a nossa autoestima e realização pessoal através de outras fontes, como as amizades, o sucesso profissional, aprendizagens, entre outros.
A aceitação da imagem corporal é indissociável de outros mecanismos emocionais. Só quem gosta se si como um todo, consegue gostar de si fisicamente. Alguém que se foque apenas na imagem corporal jamais terá uma boa autoestima. Importa ainda perceber que, aceitar a nossa imagem não significa que não tentemos melhor alguns aspetos que achamos relevantes. As duas coisas podem coexistir. Canalizar a nossa energia para outras fontes de realização ajudará certamente o processo de aceitação de nós como um todo, onde se inclui a imagem corporal.
Importa ainda frisar que, não nos devemos condicionar pelos padrões de beleza muitas vezes criados em computador. Somos pessoas reais, aceitemo-nos assim.
Entrevista à Revista Vogue
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