Hoje é dia 18 de Outubro de 2021, segunda-feira. Está por esta altura a entardecer e entretanto será noite. É aqui que estamos, fisicamente. É aqui que devemos estar, mental e emocionalmente, é este o nosso “aqui e agora”. É, no fundo, aqui que temos controlo sobre alguma coisa. O passado é imutável e o futuro imprevisível, impossível de antecipar ou adivinhar.
Porque será então que é, muitas vezes, num destes dois pólos que passamos (mentalmente) a maior parte do nosso tempo? Porque é por vezes tão difícil que os nossos pensamentos e emoções estejam na mesma localização física e temporal que o nosso corpo? Será esta uma escolha? Será inconsciente? Um processo automático? Uma fuga, uma defesa? Ora, na verdade, todas estas possibilidades podem levar-nos a fugir do “aqui e agora” e a não conseguirmos estar simplesmente no momento presente, nem desfrutá-lo.
Quantas vezes num dia damos por nós a reviver o passado na nossa cabeça, a remoer o que gostávamos que tivesse sido diferente? Quantas das nossas 24h diárias são gastas a pensar no que queremos ser ou ter no futuro? E a questão principal: quanto do nosso tempo de hoje estamos nós a dedicar a vivê-lo, a senti-lo, a apreciá-lo, a agradecer o que temos e sentirmos orgulho pelo que alcançámos até aqui?
É desta vida repartida em dois tempos distantes que vem muitas vezes a tão intensa sensação de insatisfação descrita por tantas pessoas em terapia. Como podemos estar satisfeitos enquanto nos focamos no que não podemos mudar ou no que ainda não alcançámos? Quão injustos somos nós connosco próprios ao desperdiçarmos a única coisa que temos por garantida: o momento presente? E assim entramos muitas vezes num ciclo vicioso de viver entre o arrependimento e a culpa e a ansiedade e a frustração, que é emocionalmente desgastante. E por vezes, assim desgastamos as nossas relações, perdemos oportunidades ou temos a sensação de que estamos a ser espectadores da nossa vida, a vê-la acontecer e a sentir o tempo a passar sem o vivermos. Apesar de nem sempre nos apercebermos desta escolha, por ser inconsciente ou automática, devemos aceitar que estamos a fazer uma escolha pois só assim ganhamos consciência de que podemos escolher diferente. Podemos escolher estar no momento presente em vez de o negligenciar.
Sabemos facilmente dizer onde vivemos, onde estamos fisicamente. Mas quantas vezes nos perguntamos onde estamos a viver hoje, mental e emocionalmente?
Parar, respirar fundo, estar sozinho(a), olhar o nosso presente e fazer uma lista das coisas pelas quais estamos gratos hoje: estas são formas simples de trabalharmos a nossa capacidade de estar no “aqui e agora” e de dar mais atenção ao nosso “hoje”.
Se o presente falasse provavelmente ia sentir-se ignorado e ofendido, por saber que ele é o tempo mais precioso que temos e que estamos a escolher não o viver.
Hoje, enquanto vos escrevo estas palavras, eu escolhi estar no aqui e agora, focada na oportunidade que tenho de partilhar esta reflexão com vocês.
E tu, onde estás a viver hoje?
"Ao longo da vida não nos despedimos da maioria das coisas que perdemos. Felizmente, não temos de despedir-nos deste aqui e deste agora, são nossos para sempre."
José Luís Peixoto - Regresso a Casa
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