“É dia do Pai e o colégio, tal como acontece todos os anos, assinala esse dia com um lanche que reúne pais e filhos num mesmo espaço em momentos de partilha. São 9h da manhã e o telefone toca no colégio. Era a mãe do João a informar que, naquele dia, ele não pode ir ao colégio. Está doente. Os pais do João separaram-se há seis meses.” Arma de arremesso ou coincidência? Deixo ao critério de cada leitor, pois a resposta é apenas a incerteza.
Nada é pior que crescer um ambiente onde as pessoas não são felizes, onde há gritos e conflitos, onde o modelo que nos é dado é de hostilidade e não de amor. Nenhuma criança merece ser responsabilizada pela manutenção de relações onde não se é feliz e nenhuma criança merece aprender que, aquilo que faz sentido, é permanecer em relações a qualquer custo. Mais importante que ter os dois pais juntos, é tê-los felizes e saudáveis, capazes de amar e ser amados, capazes de dar afeto e de sorrir.
As relações terminam, esgotam-se, mas, os filhos permanecem e a ligação ao outro será perpetuada através deles. Por isso, quando uma relação termina é preciso entender que, embora este já não seja um casal conjugal, continuará a ser para sempre um casal parental que partilha o mesmo filho, criando-se exigências parentais, talvez maiores, que no casal conjugal, onde a articulação e comunicação é mais fácil.
Há uma nova família em formação, aquela que começa quando o casal se separa. E esta nova configuração familiar obriga os intervenientes a lutarem com sentimentos ambíguos. Por um lado, lidam com a desilusão de uma relação terminada, por outro, gerem a necessidade de consensos na educação do filho comum. As obrigações e responsabilidades serão para sempre partilhadas, pelo que, este antigo casal conjugal, jamais deixará de ser um casal parental, permanecendo ligado através dos seus filhos.
Falamos então da necessidade de uma parentalidade positiva e partilhada, onde a criança é o elemento principal e onde o foco não é magoar o outro através da única ferramenta que dispomos, os filhos. Ao privar um pai ou uma mãe do seu filho, é também àquele filho que está a ser retirado o direito ao seu pai ou mãe.
Mas, desengane-se quem acha que esta é uma tarefa fácil. É extremamente difícil lidar com uma rutura, sobretudo quando indesejada e, mesmo assim continuar a sorrir e a facilitar a vida àquele/a que nos deixou para trás. Se pudermos, não lhe facilitaremos a vida. E qual a única forma de o fazer? Através dos filhos. Quem já passou por isto, sabe como é difícil alguém assistir à saída do parceiro/a sem deixar estes sentimentos “menos nobres” virem ao de cima. Contudo, o tempo e o amor aos filhos são facilitadores e, através deles, conseguir-se-á diminuir a dor e transformar o ex-casal conjugal no novo casal parental.
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