Não há hipnose se não existir transe, apesar de poder existir transe sem existir hipnose. Por essa razão importa perceber primeiro o que é o transe e só depois a relação deste fenómeno com a hipnose e com a hipnoterapia.
O termo transe refere-se a um fenómeno da mente, a um estado que se poderá equiparar a um sonhar acordado, em que a mente está focada, sendo muitas vezes experimentado pelas pessoas quando estão em meditação, a ouvir música, a ouvir uma comunicação desinteressante, a conduzir ou quando estão apenas cansadas, dirigindo o pensamento noutro sentido que não o do que está a acontecer no momento e à sua volta. Estas são formas de transe naturais. Com isto introduz-se a ideia de que o transe pode ser também um estado induzido por alguém. Seja um transe natural ou induzido, pode afirmar-se que o transe é sempre transe, ou seja, tem as mesmas características em qualquer das situações.
Tendo em atenção estes aspectos generalistas relativos aos conceitos de transe, pode-se dizer que a hipnose é apenas um conjunto de procedimentos através dos quais o individuo é conduzido a um estado de transe. Quando se utiliza a indução do transe (hipnose) com fins terapêuticos, falamos de hipnoterapia.
Para ajudar a perceber melhor a hipnose importa explicar que esta, enquanto procedimento de indução do transe, pode ser utilizada com fins terapêuticos, como já referido, mas também com fins lúdicos. A diferença entre as duas não está tanto no estado de transe em si, mas nos procedimentos de indução, de condução de todo o processo e nos fins de uma e de outra. Podendo haver algum procedimento ou princípio de um tipo de hipnose utilizado no outro, acabam por ser distintos na forma e nos resultados.
Em relação à dimensão terapêutica da hipnose, existem três grandes abordagens ou modelos vulgarmente utilizados: o modelo autoritário, o modelo do relaxamento muscular progressivo e o modelo da hipnose conversacional. No modelo autoritário existem acções e comandos autoritários para entrada em transe, em que o indivíduo tem pouca ou nenhuma margem de escolha, sendo feitas as sugestões que quem conduz a hipnose entende válidas e com os propósitos que considera ajustadas. Neste caso, o cliente tem uma postura passiva, de receptor. No modelo de relaxamento muscular progressivo, recorre-se à sugestão de relaxamento como forma de induzir e aprofundar o transe. Neste modelo, o cliente é conduzido pelo terapeuta na busca da cura ou solução que se pretende, de acordo com guiões pré-existentes, sob a forma de metáforas ou de sugestões directas, em que se procura integrar os aspectos relativos à problemática do cliente, convidando-o a envolver-se na história que está a ser contada e através dela, a resolver o que apresenta como problema. No modelo da hipnose conversacional, também designada por abordagem ericksoniana, a indução do transe é feita a partir da conversação entre o terapeuta e o cliente, não estando sujeita a uma abordagem definida previamente, envolvendo continuamente o cliente, utilizando os seus recursos, crenças e valores. Neste modelo o cliente é o centro de todo o processo terapêutico, em que o objectivo não é o transe mas levar o cliente ao estado que pretende alcançar.
Fora da hipnoterapia, pode-se falar da hipnose com fins lúdicos, ou seja, da hipnose de palco ou da street hipnose, associados a formas de indução de transe próprias do modelo autoritário. Neste caso utiliza-se, em regra, a criação de um desequilíbrio físico e mental momentâneo e inesperado, provocando surpresa e desorientação, seguidos de comandos de entrada em transe. Neste caso, o individuo que se presta a esta situação é apenas parte do espectáculo em que decidiu participar.
Em qualquer dos modelos referidos é possível encontrar um denominador comum e que é o recurso à sugestão, seja para induzir o transe, convidar à visualização, ou promover a cura. Quanto mais próxima da realidade do cliente for a sugestão, maior a sua eficácia.
Surge como oportuno explicar que é possível entrar em transe através de outras abordagens, como por exemplo a meditação. Nesta dimensão, a experiência desse estado de transe pode surgir por iniciativa do próprio ou pode ser guiada, sem, no entanto, haver nem interacção nem a sugestão de cura. Os propósitos da meditação são absolutamente distintos dos da hipnoterapia, apesar de haver uma aparente coincidência de estados da mente.