O meu nome é Beatriz. O “dela”, a minha companheira - que se deu a conhecer há cerca de seis meses - é ansiedade. Decidi escrever sobre ela e não só sobre mim. Decidi escrever sobre nós... porque existe sim, um nós. Passou a existir um plural dentro do meu singular sem pedir licença para entrar na minha vida nem para fazer parte do meu dia-a-dia nem tão pouco para tomar conta do meu pensamento.
Quando conheci aquela que viria a tornar-se minha companheira, não gostei dela. Chegou repentinamente, foi dura na forma como se deu a conhecer e, acima de tudo, assustou-me. Revelou em mim sintomas que nunca antes tinha tido e que me causaram tudo menos momentos felizes. Aterrorizou-me sem eu perceber o porquê de me escolher. O porquê de ser naquela altura, que julgava eu ser uma altura tão calma e tão inapropriada, uma vez que estava de férias e nada me atormentava de forma direta naquele momento (pensava eu, claro).
A verdade é que a ansiedade chegou. Fez-se sentir e eu tive de a aceitar, não fosse ela ter decidido ficar instalando-se com a “maior das latas” no meu sofá. E não bastava ter decidido ficar no meu sofá, que até então eu julgava ser confortável e suficiente para eu viver feliz, como decidiu ocupar o espaço todo...! Ou seja, a ansiedade não me estava a deixar sentar no meu sofá, ter espaço na minha vida, ter pensamentos autónomos, positivos, ser dona da minha vida e do meu ato livre de pensar no que me fazia feliz.
Durante muito tempo tentei fazer a pior coisa que se pode fazer nestes casos: controlá-la. A ansiedade não gosta de ser controlada. É dona do seu nariz mas não avisa quando mete o dela onde não é chamada. Revoltante, não é!?
Passados então esses meses iniciais, duros e de luta constante contra algo que eu ainda nem percebia bem o que era, decidi que a solução estava em contrariá-la. Mostrar-lhe que eu ainda tinha força e liberdade e que ela não ia continuar a ter todo aquele domínio na minha vida.
É aí que aparece a psicoterapia. A minha grande ajuda nesta viagem de descoberta constante. Não podia eu ter encontrado algo melhor para mim - na psicoterapia encontrei compreensão, acima de tudo, que era o que mais me fazia falta de forma geral - compreender o que se passava comigo e ao mesmo tempo compreender que o que eu achava ser muito relevante afinal não tinha de ter essa relevância toda.
Foi ali que aprendi mais sobre mim, sobre o meu passado, sobre o meu carácter. Foi ali que descobri que tudo tem solução e que mesmo que eu não a encontre imediatamente, ela chegará, a seu tempo, quando eu estiver pronta para a receber. Foi ali também que aprendi alguns dos meus “truques” para viver com a ansiedade sem andarmos sempre às turras. Não foi fácil, ainda hoje não o é, mas é muito melhor do que quando comecei esta luta. É uma luta sobre o deixar de olhar para as coisas só com cores escuras e tristes, com negativismo e preocupação e aprender a ver com olhos cheios de cor, de esperança, de calma e de positivismo. É, também, uma luta comigo. Com crenças que criei e que me limitavam, me prendiam. É o saber deixar fluir. Não planear. Não sofrer por antecipação. Não pensar que tudo me pode causar dor e sofrimento. Não ter MEDO de tudo. E sim, escrevo medo com letras maiúsculas porque era assim que eu o via – enorme! Maior que qualquer outra coisa. Medo de sair de casa, medo de ir para o trabalho, medo de multidões e de ruídos, medo de estar sozinha, medo de voltar à primeira crise grave, medo de pensar sobre o que era preciso ser pensado. MEDO. De mim. De tudo.
A ansiedade ensinou-me muita coisa. Tanta que talvez até ainda não a tenha aprendido na totalidade e ainda exista mais por descobrir. A psicoterapia ensinou-me a olhar para a ansiedade não como a inimiga, mas como a minha companheira. Aquela que anda de mão dada comigo mesmo quando eu não lhe peço. A que me faz ficar alerta mas que ao mesmo tempo não pode ter a minha atenção em demasia. Vivemos juntas desde Agosto de 2018. No presente, a minha companheira já não me visita tanto e quando tenta, já me dá alguns avisos para eu não me assustar... também já lhe conheço as manhas, mas sempre que aparece tento não me condenar, não pensar no que os outros poderão pensar ou se conseguem perceber o que estou a sentir fisicamente. Aceito-a, deixo-a estar. Mas sempre com a certeza de que de mim não terá mais do que eu permito. Com a certeza de que não ficará no meu sofá, estendida ao comprido, por tempo indeterminado. Eu deixo-a estar, mas está de passagem. Porque na realidade nem tudo acaba como começa, eu posso não conseguir controlar as ondas mas posso sempre aprender a “surfá-las”.
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