As situações de perda/morte são consideradas o acontecimento mais stressante na vida de uma pessoa. Como nós, adultos, as crianças também sentem a perda e também sofrem. Podem apresentar sintomas físicos como perda de apetite, dores de cabeça, dificuldade em dormir, assim como sintomas comportamentais como rebeldia, inquietação, perda de interesse em atividades e podem também desenvolver medos, dificuldades de concentração, choro e tristeza. Juntamente com a criança importa identificar estes sintomas e garantir que eles serão temporários e passageiros.
A forma como a criança perceciona a morte depende da fase de desenvolvimento em que se encontra. Em crianças pequenas, compreender a morte e o seu caráter definitivo pode ser difícil. É por isso fundamental utilizar uma linguagem concreta, nomeadamente explicar que as pessoas que morrem já não comem ou respiram e que o corpo deixou de funcionar. Nunca utilize frases como “está a dormir profundamente” ou “foi fazer uma viagem” pois pode suscitar o aparecimento de medos como “se eu for dormir, posso morrer”.
A partir dos 6 anos a morte começa a ser encarada de forma mais real e concreta e como tal, as crianças podem fazer mais perguntas, às quais o adulto deverá sempre responder em função da capacidade e compreensão da criança para prevenir o desenvolvimento de culpa ou ideias mágicas que acrescentam sofrimento.
Podemos distinguir várias fases num processo de luto. A primeira fase é a negação/choque onde é natural que a criança se recuse a aceitar a perda e procure explicações menos dolorosas. Por exemplo, perante a notícia, a criança pode dizer que isso é mentira e que a pessoa foi de férias. Na segunda fase, a raiva, passa a existir uma maior noção da perda, a criança pode sentir-se alterada do ponto de vista emocional e pode questionar “porque é que isto me aconteceu?”. Em especial, nesta etapa, torna-se fundamental apoiar e prestar atenção à criança, uma vez que existe risco de internalizar este sentimento de raiva, e tornar-se em adulto uma pessoa revoltada, com medo de ser abandonado. Na negociação, terceira fase, a criança pode desenvolver alguns sentimentos de culpa e imaginar que o familiar morreu porque ela fez algo de errado. Neste sentido, fazem por vezes acordos. Por exemplo “mãe, se eu me portar bem, o avô pode voltar?”. Deve ser clarificado que a culpa não foi sua. Na fase da depressão, a tristeza, desamparo e choro predominam. É uma fase necessária para o processo de luto, e por isso o adulto deve validar estes sentimentos, explorá-los com a criança e devem ser evitadas frases como “não chores, não penses nisso”. Na última fase, a aceitação, a criança integra a perda como parte da sua vida e consegue ganhar esperança e confiança em relação ao presente e futuro. Não esquece, e manterá a saudade, mas irá sentir uma sensação de normalidade na sua vida com as suas rotinas e atividades.
Mas como contar? Não deve ser adiado o momento em que se conta à criança pois ela rapidamente se irá aperceber que algo de errado está a acontecer. A notícia deverá ser dada por um adulto em quem a criança confie, num local calmo e tranquilo. Não minta. O contacto físico, como um abraço ou as mãos dadas é importante, assim como também deverá falar sobre o que está a sentir, pois devemos mostrar às crianças que não tem mal partilhar as nossas emoções e que as mesmas são normais face à situação. Os adultos devem também estar disponíveis para responder às questões que a criança coloca mesmo que sejam de forma repetitiva. Quanto aos rituais, nomeadamente o funeral, deve ser explicado em que consiste e deverá sempre ser uma escolha da criança ir ou não. Deve ser explicado que, caso não queira, não faz mal, o familiar irá continuar a gostar dela e poderá ir noutro dia.
É importante dar à criança o tempo que necessita para interiorizar e fazer o seu luto, que se traduz num processo e não num acontecimento, como vimos. Torna-se fundamental entender que sendo criança, ela não terá as mesmas capacidades de se expressar e, como tal, as evidências de sofrimento surgem muitas vezes através do comportamento.
Se tiver dúvidas em relação ao seu filho quanto à intensidade e frequência das reações emocionais e comportamentais à perda ou se necessitar de apoio para o processo de luto infantil, procure ajuda psicológica.
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