O termo Neuropsicologia, foi, principalmente, concebido por Luria em 1981, como a ciência que estuda a relação entre o cérebro e o comportamento humano, e talvez seja essa a definição
mais explorada pela maioria dos autores. De um modo primário podemos considerar o interesse dos estudos inerentes à Neuropsicologia limitado às consequências comportamentais causadas por lesões cerebrais específicas. Porém, actualmente, a abrangência desta ciência diversificou-se, procurando investigar as funções cerebrais superiores inferidas a partir do comportamento cognitivo, sensorial, motor, emocional e social do sujeito. Consequentemente, a Neuropsicologia pode ser descrita como o estudo das relações entre a fenomenologia comportamental (actividade nervosa complexa, condutas, emoções e personalidade) e a dinâmica funcional do encéfalo, normal e patológico.
Posto isto, pretende-se que este artigo seja útil para quem ainda não está familiarizado com o termo e deseja uma breve descrição e sinopse da ciência por detrás da prática clínica.
Como área específica de estudo, a Neuropsicologia tem um desenvolvimento relativamente recente, embora a sua fundamentação científica seja resultante de várias décadas de investigação. As formas de se trabalhar em Neuropsicologia são três: Avaliação Neuropsicológica, Reabilitação Neuropsicológica e Neuropsicologia Experimental. Inerente ao processo de avaliação está o estudo da neuroanatomia encefálica, assim como a sua organização funcional. A avaliação neuropsicológica enquadra os métodos de exploração funcional do encéfalo correlacionáveis com os estudos da actividade nervosa complexa, como, por exemplo, a avaliação da atenção, da memória, da linguagem, da percepção, entre todas as outras capacidades cognitivas. Igualmente em âmbito clinico, a intervenção neuropsicológica, nas suas vertentes de reabilitação, restruturação funcional, e reintegração Bio-Psico-Social dos pacientes com disfunções neuropsicológicas, constitui uma parte central no plano desta ciência. Com a Neuropsicologia Experimental pretende-se explorar dados obtidos em observações de casos individuais e procurar construir, testar e aperfeiçoar modelos de funcionamento cognitivo humano, tendo em conta as suas bases neuro-funcionais, para uma maior compreensão teórica do cérebro e o desenvolvimento de novas intervenções.
A abrangência etária desta ciência está dividida em dois grupos, crianças e adultos, devido à especificidades de cada um. Quando falamos em Neuropsicologia Pediátrica, temos como objectivo identificar precocemente alterações no desenvolvimento cognitivo e comportamental em crianças, e encontramo-nos, quase sempre, no campo das perturbações do Neurodesenvolvimento. São descritas como perturbações do Neurodesenvolvimento, o conjunto de perturbações que surgem de forma precoce no desenvolvimento da criança, que se caracterizam por alterações/défices no desenvolvimento típico e que condicionam o seu funcionamento, transversalmente, a nível pessoal, social, académico e ocupacional. Classificam-se em sete categorias: a Perturbação do Espectro do Autismo; a Perturbação de Défice de Atenção e Hiperactividade; a Perturbação do Desenvolvimento Intelectual/Incapacidade intelectual; as Perturbações da Comunicação; as Perturbações Específicas da Aprendizagem (Dislexia, Disortografia, Discalculia); Perturbações Motoras; e outras Perturbações do Neurodesenvolvimento.
A Neurospicologia do adulto e do adulto sénior, enquadra uma vasta gama de condições, patologias ou traumas. Podemos enquadrar a lesão cerebral adquirida (ex: AVC, TCE, Tumores, Infecções, anóxia), degenerativa (Despiste de Défice cognitivo ligeiro, envelhecimento normal, Alzheimer ou outras demências), congénita, com consequências relevantes a nível familiar, social ou profissional, Perturbações do Neurodesenvolvimento ou Perturbações do Humor.
Desta forma, a Neuropsicologia torna-se um dos componentes essenciais das consultas periódicas de saúde infantil, e nos encaminhamentos de todas as especialidades médicas e psicológicas, com enfoque em patologias com disfunções cognitivo-comportamentais.
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