Cortar o vínculo com a pessoa com quem mantivemos uma relação é sempre difícil, independentemente da pessoa que tomou a decisão. Uma relação assume múltiplas funções na vida de uma pessoa. Tudo se organiza em torno da relação estabelecida. Ela é estruturante para nós e, por isso, quando termina, sentimo-nos desorganizados, como se nos tirassem “o chão”. Muitas vezes aquilo que se torna mais difícil não é a perda da pessoa, mas sim a perda da nossa vida tal qual a conhecíamos. Implica um processo de luto, até conseguirmos “seguir em frente”.
Quando uma relação termina, isso não significa que devamos eliminar automaticamente toda a ligação digital à outra pessoa. Na verdade, nós não eliminamos pessoas da nossa vida, por isso, é também difícil eliminá-las digitalmente das nossas vidas. Contudo, quando o término da relação é traumático, poderá ser necessário fazer um reset digital, deixando de seguir determinada pessoa e terminado a verificação dos tempos passados online pelo outro através dos chats.
Relatos sobre o sofrimento causado pelos comportamentos de verificação são cada vez mais frequentes. Após o término da relação, as pessoas continuam a “controlar” o outro através das suas redes socias e do seu status no chat, o que se torna menos equilibrado. A partir daqui são feitas suposições várias, tentativas de perceber quando é que o outro está a falar com alguém, controlo dos comentários nas fotografias, e tentamos ainda perceber se o outro já está numa nova relação por esta via.
O problema deste tipo de interpretações é que é altamente enganador pois um like não tem de significar que a pessoa está numa nova relação e o estar “online” não quer dizer que esteja a falar com um/a novo/a pretendente. Muitas vezes as pessoas ficam reféns deste comportamento, impedindo-as de equacionar a sua vida de outra forma, de fazer o seu luto e perpetuando o sofrimento. Este tipo de comportamento apenas traz sofrimento a quem o pratica e torna mais difícil distanciar-se do outro. A era da tecnologia trouxe esta faceta, estarmos facilmente acessíveis digitalmente.
Dicas para gerir melhor este tipo de comportamentos:
- Não passar demasiado tempo ao ecrã, pois tona-se mais difícil resistir ao controlo do outro;
- Gerir o autocontrolo na visita a páginas ou verificação do status do chat;
- Se necessário, deixar de seguir a outra pessoa, de modo a diminuir notificações ou aparecimento de posts de alguém;
- Cuidado com as interpretações - não tentar interpretar likes, comentários ou status (não ver sinais em coisas que poderão não o ser);
- Ponderar a resposta a mensagens do outro.
Catarina Lucas - Psicóloga
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